Guerra começou no sábado e já deixou mais de 1,8 mil feridos

Porto Velho, RO - O secretário de Estado norte-americano telefonou ao chefe do Exército do Sudão e ao chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF), nesta terça-feira (18), depois de uma comitiva diplomática dos EUA ter sido alvo de ataques durante os confrontos que se vive no país. Antony Blinken descreveu o ocorrido como “imprudente” e “irresponsável” e alertou que qualquer ataque ou ameaça a diplomatas norte-americanos é inaceitável.

Uma comitiva diplomática dos Estados Unidos no Sudão foi surpreendida durante um fogo entre as facções militares no país na segunda-feira (17).

Blinken adiantou que ninguém ficou ferido, mas condenou o ataque, salientando que a fileira de veículos que ficou sob o fogo cruzado exibia bandeiras norte-americanas.

"Todo o nosso pessoal encontra-se são e salvo", mas este é um "ato irresponsável", disse o secretário no final de uma reunião de dois dias de ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 – grupo dos sete países mais industrializados do mundo, na cidade japonesa de Karuizawa.

O secretário norte-americano adiantou que durante o telefonema que manteve com os dois comandantes sudaneses expressou “profunda preocupação com o ambiente geral de segurança” e apelou a um cessar-fogo de 24 horas “para permitir que os sudaneses se reúnam em segurança com suas famílias”.

Cessar-fogo

Nesta terça-feira, o chefe das RSF disse que as forças paramilitares concordaram com um cessar-fogo de 24 horas para permitir a passagem segura de civis, incluindo aqueles que ficaram feridos nos combates.

Em uma publicação no Twitter, o general Mohammed Hamdan Daglo, mais conhecido por Hemetti, disse que a decisão foi tomada após a conversa com o secretário de Estado dos EUA.

Hemetti disse que discutiu “questões urgentes” com Blinken e que os dois manterão diálogo “para trabalhar de mãos dadas e forjar um futuro melhor para as nossas nações”.

Entretanto, o Exército disse em comunicado não ter conhecimento de qualquer cessar-fogo de 24 horas. "Entramos em uma fase crítica e os nossos esforços estão focados em atingir metas a nível operacional", disse o Exército, que acusa as RSF de planear usar o tempo do alegado cessar-fogo para encobrir uma “derrota esmagadora”. Tanto o Exército como as RSF ofereceram tréguas nos dias anteriores, mas os combates não pararam.

Entenda

Os confrontos no Sudão eclodiram no sábado (15), na medida em que aumenta a tensão entre as duas facções militares do país. De acordo com a ONU, pelo menos 185 pessoas morreram e mais de 1,8 mil ficaram feridas nos últimos dias.

O conflito provocou cortes de água e de energia em algumas regiões do Sudão e alguns hospitais estão ficando sem recursos para prestar cuidados aos milhares de feridos.

A tensão entre as duas facções militares aumentou depois de o grupo paramilitar ter reivindicado o controle do aeroporto e do palácio presidencial de Cartum, em uma aparente tentativa de golpe de Estado.

Os confrontos, que começaram em Cartum e se alastraram às cidades vizinhas de Omdurman e Bahri, são os mais graves em décadas e podem dividir o Sudão entre as duas facções que dividiram o poder durante uma difícil transição política.

Depois da revolta civil que levou à destituição de Omar al-Bashir, em 2019, foi estabelecido um governo interino em articulação com as autoridades militares.

Nessa altura, o Sudão atravessava um período de transição democrática, mas o processo foi interrompido por um golpe militar, em novembro de 2021.

Os militares uniram-se contra os dirigentes civis e tomaram conta do Conselho Soberano e o Sudão passou, assim, a ser governado por um conselho de generais. O chefe do Exército e atual presidente do país, o general Abdel Fattah al-Bourhan, tornou-se presidente do Conselho Soberano e o chefe das RSF, general Mohammed Hamdan Daglo, o seu vice-presidente.

Mas Hemetti acabou por se colocar do lado dos civis. Os dois generais entraram em discórdia sobre condução do país dando início ao conflito, com as duas partes lutando pelo poder. No centro do desacordo estão os planos para a integração do RSF nas forças armadas e quem deveria supervisionar esse processo.

Fonte: Mariana Ribeiro – Repórter da RTP*