Ministro do STF relata inquéritos que miram bolsonarismo radical, responsável pelo vandalismo que atingiu Brasília neste domingo

Porto Velho, RO -
Os atos golpistas promovidos pelo bolsonarismo radical neste domingo (8) reforçaram a posição institucional do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, deixando, por outro lado, uma longa lista de políticos chamuscados em decorrência do episódio.

Relator de inquéritos que miram os núcleos golpistas do bolsonarismo, Moraes determinou ainda neste domingo o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), além da imediata desmontagem do acampamento antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército, na capital federal.

Com isso, os bolsonaristas foram desalojados nesta segunda-feira (9), sendo que cerca de 1.000 devem ser indiciados pela Polícia Federal.

O problema se arrastava desde as eleições sob a conivência do Exército e do governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), e tampouco havia sido resolvido pela incipiente gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As cenas inéditas de vandalismo que correram o mundo no domingo e que foram o mote das decisões de Moraes tendem a amainar as críticas jurídicas que o ministro sofria por conduzir de forma atípica os inquéritos contra os atos antidemocráticos —entre outros pontos, essas investigações foram abertas de ofício, ou seja, sem a provocação do Ministério Público, o que era a praxe até então.

Já os chefes do Legislativo —Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL)— também assumiram desde o primeiro momento a defesa das instituições. Ambos se manifestaram contra a baderna e em defesa da democracia. Pacheco instou os colegas a repudiarem publicamente os atos em sinal de unidade do poder.

Os ataques golpistas devem trazer ganhos políticos para Lula e auxiliares, mas evidenciam fragilidades.

Por um lado, eles tendem a reforçar a tentativa do governo de isolar politicamente Bolsonaro e seu grupo político mais ideológico, já que o repúdio à depredação da sede dos três Poderes uniu esquerda, centro e integrantes da direita não extremista.

Um exemplo eloquente disso foi a reunião na noite desta segunda de Lula com os governadores, inclusive os de oposição, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a cúpula dos três Poderes, em Brasília.

O presidente também reafirmou a autoridade ao decretar a intervenção na segurança do Distrito Federal e ao não vislumbrar, pelo menos publicamente e por ora, insubordinação no comando das Forças Armadas.

A inédita depredação da chefia do Executivo, Legislativo e Judiciário sob sua gestão e sem que tenha sido detectada de forma eficiente pelos órgãos federais de segurança, porém, evidenciaram despreparo e também uma oposição renhida à sua inicial gestão —e à sua figura.

O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), também viu ganhos e perdas no episódio. Ele fracassou nas reiteradas promessas de que os acampamentos golpistas seriam desfeitos e não foi capaz de detectar com mais precisão o que estava por vir.

Com o caos instalado, entretanto, esteve sempre à frente das iniciativas federais, inclusive na decisão de intervenção, além de mostrar que era acertada a sua defesa interna de uma ação mais vigorosa contra os golpistas —posição que contrastava sempre com a do ministro da Defesa, José Múcio.

O titular da pasta à qual estão subordinadas as Forças Armadas integra a longa lista de derrotados políticos com o episódio.

É dele a infeliz frase, dita no dia 2, de que os acampamentos golpistas eram uma manifestação da democracia, além da equivocada avaliação de que eles seriam desmobilizados naturalmente, com diálogo, sem necessidade de qualquer ato de força.

A lista prossegue com o governador afastado do DF e o seu então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, bolsonarista que calhou de estar de férias na mesma localidade de Jair Bolsonaro no dia dos ataques.

O ex-presidente é, certamente, um dos principais chamuscados com os atos promovidos por seus admiradores radicais.

Ele consolida novamente sua associação ao extremismo, com o agravante de, em todos esses meses, ter tentado se equilibrar em cima de um muro. Não adotou uma ação direta de estímulo —além das que havia feito antes das eleições— nem uma declaração direta de desmobilização.

Preferiu a mudez ou a dubiedade, coroada com a viagem para Orlando (EUA) às vésperas de deixar o mandato.

Um dos principais aliados de Bolsonaro após deixar a toga, em 2018, depois adversário e mais recentemente novamente aliado, o ex-ministro e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro chegou a sinalizar apoio aos protestos antidemocráticos momentos antes de cadeiras voarem sobre os vidros da sede dos três poderes.

Em um postagem publicada às 13h22 deste domingo, afirmou que o novo governo havia iniciado a gestão "mais preocupado em reprimir protestos e a opinião divergente do que em apresentar resultados"

Após a baderna instalada em Brasília, publicou nova manifestação afirmando que protestos têm que ser pacíficos e que a oposição precisa ser feita de maneira democrática, respeitando a lei e as instituições.

A lista de políticos ou autoridades que saem enfraquecidas inclui também o procurador-geral da República, Augusto Aras, um aliado de Bolsonaro que se notabilizou por não agir diante de manifestações e atos antidemocráticos do então presidente e de seus aliados.

Fonte: Folha de São Paulo