PF e Polícia Legislativa do Senado apreendem arsenal na casa do empresário bolsonarista Júlio Farias, em Macapá, nesta quinta-feira (22) - Divulgação

Porto Velho, RO - A Polícia Federal e a Polícia Legislativa do Senado realizaram na manhã desta quinta-feira (22) uma operação conjunta que resultou na prisão em flagrante do empresário bolsonarista Júlio Farias, em Macapá. Dono de uma rede de postos que leva o seu nome, ele vinha efetuando uma série de ameaças contra o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Dois mandados de busca e apreensão foram expedidos pela juíza federal Pollyanna Kelly Maciel Medeiros Martins Alves, da 12ª Vara Federal Criminal de Brasília, no âmbito de um inquérito aberto pela Polícia Legislativa.

Na residência do empresário, as autoridades encontraram dez armas e mais de 3.000 munições. O arsenal reúne itens como fuzil, pistolas semi-automáticas e um revólver calibre 38.

Júlio Farias foi preso em flagrante pela Polícia Federal por causa de um silenciador para fuzil comprado ilegalmente. O acessório é considerado de uso restrito e, por isso, sua posse seria vedada pelo Estatuto do Desarmamento.

De acordo com agentes que participaram da operação e foram ouvidos pela coluna, Júlio Farias não apresentou resistência ao cumprimento dos mandados de busca e apreensão. Ele agora deverá ser ouvido em audiência de custódia, e caberá à Justiça definir qual será o seu destino.

A 12ª Vara Federal Criminal de Brasília determinou a suspensão do porte de armas de fogo registradas em nome do empresário e ordenou que ele mantenha uma distância mínima de 200 metros de Randolfe Rodrigues.

O senador Randolfe Rodrigues durante entrevista no Senado, em Brasília - Pedro França/Agência Senado

Embora seja comum a abertura, pela Polícia Legislativa, de inquéritos por ameaça e ofensa contra parlamentares, uma operação envolvendo busca e apreensão de armamento pesado é algo visto como inédito dentro da força. Segundo agentes, o procedimento está previsto legalmente.

Na entrada de casa do empresário, os policiais encontraram uma placa que apresentava os dizeres "atenção: do muro para dentro, agimos igual ao STF [Supremo Tribunal Federal]. Acusamos, julgamos e executamos a pena!".

As ameaças contra o senador Randolfe Rodrigues eram constantes e feitas por Júlio Farias por meio de suas redes sociais. No mês passado, o empresario bolsonarista usou palavras de baixo calão e proferiu ofensas de teor homofóbico contra o parlamentar em vídeo publicado em seu perfil.

"Ô, gazela, eu vou te avisar uma coisa: o dia que eu me encontrar contigo e tu falar para mim 'perdeu, mané', tu vai cair na porrada. Vagabunda, nojenta", afirmou Farias.

O empresário fazia referência a uma discussão ocorrida entre o senador e uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL) no aeroporto do Cairo, no Egito. "Deixa eu te falar uma coisa: perdeu, mané", disse Randolfe na ocasião, em resposta a provocações feitas pela mulher.

Na ocasião, o dono da rede de postos publicou nos stories do Instagram uma foto em que aparece deitado de bruços em um matagal enquanto empunhava uma arma e mirava em um alvo. "Não passa uma gazela", escreveu.

Nas redes sociais, Júlio Farias também pode ser visto ao lado de agentes armados e frequentando clubes de tiro em diversas imagens.

Outras publicações ainda mostram o empresário participando de manifestações golpistas que buscam deslegitimar o resultado das eleições deste ano. Em uma delas, Faria afirma que "se o Brasil fosse um país sério" não se estaria "falando de Lula" —e que o petista "estaria enterrado na fossa".

Fonte: FOLHA com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH