Almir destacou o papel das mulheres e dos jovens na elaboração do plano 50 e também na sua execução.

Porto Velho, RO - Diante de um público formado por especialistas em governança corporativa, CEOs e acionistas das maiores empresas do Brasil e da América Latina, reunidos no 23º Congresso da Associação Brasileira de Governança Corporativa, em São Paulo, o líder indígena Almir Suruí apresentou o plano de 50 anos para a Terra Indígena Sete de Setembro, que reúne 30 aldeias de seu povo, numa área de 249 mil hectares, entre Rondônia e Mato Grosso.

Segundo Almir, o plano “50 anos de floresta em pé”, realizado de forma participativa pelos quase 2 mil integrantes da comunidade Suruí, está estruturado em 12 eixos que irão assegurar o desenvolvimento sustentável do território indígena, com a proteção da floresta amazônica e qualidade de vida para o seu povo.

“Até o contato com a sociedade não indígena, conseguimos resistir e proteger a floresta, nossa casa, com muitas lutas e dificuldades, mas agora, com planejamento, gestão e persistência estamos construindo um novo caminho para o futuro, usando com responsabilidade os recursos naturais, com base no zoneamento ecológico e econômico de nosso território, o que nos permite produzir com sustentabilidade e contribuir no combate às mudanças climáticas, com resgate de carbono e atividades de baixo impacto”, sintetizou Almir.

Com base no Plano 50, os Suruí estão produzindo café, cacau, banana, castanha, artesanatos e peixes, além do ecoturismo, com acolhida de pesquisadores e cientistas, que também contribuem com a Universidade Paiter, a primeira universidade indígena do Brasil, criada a partir do Plano.

“Estamos usando o nosso conhecimento ancestral, junto com as melhores práticas de governança para criar alternativas econômicas de autossustentação e autogestão de nosso povo e de nosso território”, disse o líder Almir Suruí.

Almir destacou o papel das mulheres e dos jovens na elaboração do plano 50 e também na sua execução. Hoje, as mulheres e jovens da comunidade exercem funções de liderança em todas as áreas. Um exemplo é a própria filha de Almir, a estudante de Direito Txai Suruí, que ficou conhecida internacionalmente ao discursar na abertura da COP 26, em Glasgow, na Escócia, no ano passado, e, nesta semana está na COP 27, no Egito.

Entre os principais desafios do Plano 50, Almir aponta a dificuldade para levantar os recursos necessários à sua execução plena. “Como é um plano de longo prazo, ainda não criamos todos os meios de sustentabilidade, por isso, dependemos da captação de recursos públicos e privados e estamos reativando nosso projeto de REDD+, para venda de créditos de carbono”, detalhou Suruí.

O líder indígena também reconheceu o momento oportuno para o Brasil voltar a liderar as discussões envolvendo o meio ambiente, as mudanças climáticas e a inserção dos indígenas neste contexto. “Com a eleição do Lula, o Brasil volta a ter esperança num futuro melhor e vamos participar ativamente deste governo para que no nosso país tenha governança e volte a ser respeitado em todo o mundo”, disse.

Almir Suruí é uma das lideranças indígenas lembradas para ocupar o novo Ministério dos Povos Originários.

Fonte: Diário da Amazônia