
Inspeção revela desde falta de médicos e equipamentos essenciais até mofo, infiltração e ausência de cadeiras de rodas. Tribunal exige medidas imediatas
Porto Velho, RO - O Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO) expediu uma decisão contundente após inspeção realizada entre 5 e 9 de maio de 2025 em seis Unidades Básicas de Saúde de Ji-Paraná. O relatório técnico revelou uma série de irregularidades estruturais, falhas de gestão, falta de equipamentos e carência de profissionais, que comprometem diretamente o atendimento prestado à população.
A decisão, assinada pelo Conselheiro Jailson Viana de Almeida, determina que o prefeito Affonso Antônio Cândido e o secretário de saúde Cristiano Ramos Pereira têm 180 dias para corrigir todos os problemas apontados — sob acompanhamento direto do controle interno municipal.
O retrato das UBS: portas quebradas, mofo, falta de médicos e equipamentos essenciais
A inspeção percorreu as UBS Dom Bosco, Nova Colina, 2 de Abril, Nova Brasília, José dos Santos (Orleans) e BNH. O que os auditores encontraram lembra mais um cenário de abandono do que unidades responsáveis pelo atendimento primário.
A seguir, um resumo crítico dos principais achados:
UBS Dom Bosco: sem cadeiras de rodas e com infiltrações
Ausência de cadeiras de rodas para pacientes com dificuldade de locomoção
Falta de desfibrilador (DEA), equipamento básico de emergência
Mobiliário quebrado e sucateado
Estrutura comprometida: infiltração, mofo, rachaduras e vazamentos
Um cenário que coloca em xeque a dignidade do atendimento.
UBS Nova Colina: médicos insuficientes e horário limitado
Déficit de médicos
Horário de funcionamento reduzido, prejudicando moradores distantes da área urbana
A falta de profissionais compromete diretamente o papel da atenção básica: prevenir, acompanhar e tratar antes que agrave.
UBS 2 de Abril: carência de equipe e problemas estruturais
Falta de ACS, enfermeiros e técnicos de enfermagem
Ausência de desfibrilador
Falta de cadeiras de rodas
Problemas estruturais, incluindo defeito na porta principal e falhas de climatização
Estrutura precária aliada à falta de equipe — combinação perigosa.
UBS Nova Brasília: equipamentos essenciais inexistentes
Um dos quadros mais graves:
Falta de DEA, sonar fetal, balança pediátrica, maca e até aparelho de ultrassonografia
Computadores obsoletos
Veículo compartilhado, dificultando transporte de equipe e pacientes
Vazamentos e falta de manutenção
Sem sonar, sem balança, sem DEA — a unidade não está equipada nem para o mínimo necessário.
UBS José dos Santos: fila para exames e infiltrações
Fila incompatível com a demanda de exames
Infiltrações graves e porta de vidro quebrada
Veículo compartilhado com outras unidades
Falta de profissionais de enfermagem
A demora em exames compromete diagnósticos e aumenta risco a pacientes crônicos.
UBS BNH: estrutura degradada e limpeza insuficiente
Pintura, reparos e revitalização pendentes
Manutenção externa irregular
Falta de cronograma de limpeza e conservação
Quando a porta de entrada do SUS está malcuidada, a confiança do usuário declina.
Achado geral: protocolo existe, mas não é usado
O TCE encontrou um problema emblemático da gestão pública:
Há protocolo, mas ninguém segue.
Os fluxos de atendimento estavam formalizados, porém não aplicados pelas equipes.
TCE exige plano de correção: 180 dias para reorganizar a saúde básica
A decisão determina:
✔ Notificação do prefeito e do secretário
✔ Cumprimento obrigatório das medidas para cada UBS
✔ Certificação pela Controladoria-Geral
✔ Retorno da equipe de auditoria após o prazo
✔ Arquivamento só após comprovação documental
O Tribunal deixa claro:
não é hora de apontar culpados, mas de corrigir o que está quebrado antes que a população pague a conta.
Análise crítica: quando a Atenção Básica adoece, a cidade inteira sobrecarrega
A inspeção do TCE-RO joga luz sobre um problema estrutural que persegue muitos municípios:
a precarização silenciosa das UBS, porta de entrada do sistema de saúde e único ponto de atendimento para boa parte da população.
A falta de equipamentos básicos como DEA, sonar fetal ou balança pediátrica é mais do que descuido: é risco real à vida.
E quando somamos:
estrutura deteriorada,
profissionais insuficientes,
filas para exames,
protocolos não aplicados,
temos um retrato claro de que o sistema caminha mancando — enquanto a população tenta se apoiar nele.
É a velha máxima se confirmando: quando o básico falha, tudo o que vem depois custa mais caro — para o Estado e para o cidadão.
Conclusão: TCE acende o alerta vermelho na saúde de Ji-Paraná
A decisão não deixa margens para dúvidas:
as UBS vistoriadas precisam de reformas urgentes, de equipamentos, de pessoal e de gestão eficiente.
O prazo está correndo.
O Tribunal voltará em 180 dias.
E a população espera que, desta vez, a porta da UBS se abra sem mofo, sem vazamento — e com atendimento digno.


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