
Porto Velho, RO - A Arábia Saudita disse nesta terça-feira (30) que não aceitará ameaças a sua segurança nacional e apoiou um pedido do governo iemenita para que as forças dos Emirados Árabes Unidos deixem o Iêmen dentro de 24 horas. O comunicado ocorre após um ataque aéreo de uma coalizão liderada pelos sauditas ao porto iemenita de Mukalla, no sul do país.
O alerta representou o tom mais duro de Riad contra Abu Dhabi até agora, enquanto a coalizão atacava o que descreveu como apoio militar estrangeiro aos separatistas do sul apoiados pelos Emirados Árabes. O chefe do conselho presidencial do Iêmen, apoiado pela Arábia Saudita, estabeleceu o prazo para as forças emiráticas saírem.
A Arábia Saudita instou o país a cumprir a exigência. Riad e Abu Dhabi são atores centrais na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), e desacordos entre os dois poderiam dificultar o consenso sobre decisões de produção do petróleo global. O grupo se reunirá virtualmente no próximo domingo (4).
O chefe do conselho presidencial do Iêmen, Rashad al-Alimi, também cancelou um pacto de defesa com os Emirados Árabes, segundo a agência de notícias estatal iemenita, e acusou o país em um discurso televisionado de alimentar conflitos internos no Iêmen com seu apoio aos rebeldes do STC (Conselho de Transição do Sul).
"Infelizmente, foi definitivamente confirmado que os Emirados Árabes Unidos pressionaram e direcionaram o STC a minar e se rebelar contra a autoridade do Estado por meio de escalada militar", disse Alimi. O Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes ainda não se pronunciou.
Os principais índices de ações no Golfo apresentavam queda nesta terça-feira após o aumento das tensões.
Ofensiva no sul do Iêmen aproxima aliados de confronto
Os Emirados Árabes eram membros da coalizão liderada pela Arábia Saudita que combatia o movimento houthi alinhado ao Irã no Iêmen desde 2015. Em 2019, começou a reduzir suas tropas no país, mas permaneceu comprometido com o governo internacionalmente reconhecido apoiado pelos sauditas.
O STC posteriormente decidiu buscar a separação e autogoverno do sul do país e, neste mês, avançou em uma ofensiva surpresa contra tropas do governo iemenita apoiadas pelos sauditas, colocando em rota de colisão Emirados Árabes e Arábia Saudita, aliados do Golfo Pérsico, e arriscando reacender uma longa guerra civil.
O avanço quebrou anos de impasse, com o STC, que oficialmente integra o conselho iemenita, reivindicando amplo controle do sul, incluindo a província estrategicamente importante de Hadramaut. Riad havia alertado o STC contra movimentos militares na província, que está na fronteira com a Arábia Saudita. O STC rejeitou o apelo saudita.
O ataque aéreo na manhã desta terça-feira seguiu-se à chegada no fim de semana de dois navios do porto de Fujairah, nos Emirados, no sábado (27) e domingo (28), sem autorização, disse a coalizão.
Após chegarem em Mukalla, os navios desativaram seus sistemas de rastreamento e descarregaram grandes quantidades de armas e veículos de combate para apoiar o STC, segundo a coalizão.
A agência de notícias estatal saudita publicou um vídeo mostrando um navio que identificou como "Greenland", do qual disse que armas e veículos de combate foram descarregados, acrescentando que o material veio do porto emiradense de Fujairah.
Ataque não deixou vítimas, diz mídia estatal saudita
A coalizão afirmou que o ataque ao porto de Mukalla não deixou vítimas ou danos colaterais, segundo a mídia estatal saudita.
Duas pessoas com conhecimento do assunto disseram à Reuters que o ataque teve como alvo o cais onde a carga dos dois navios foi descarregada.
A Reuters não pôde verificar de forma independente o que foi atingido e o que era a carga que possa ter sido alvo.
Imagens na TV estatal do Iêmen mostraram o que parecia ser uma fumaça preta subindo do porto na manhã seguinte ao ataque, com veículos queimados no local.
Alimi, o chefe do conselho presidencial iemenita, impôs uma zona de exclusão aérea e um bloqueio marítimo e terrestre em todos os portos e travessias por 72 horas, exceto para isenções autorizadas pela coalizão.
Hadramaut faz fronteira com a Arábia Saudita e tem laços culturais e históricos com ela. Muitos sauditas proeminentes traçam suas origens à área.
Aidarous al-Zubaidi, o chefe do STC e vice-chefe do conselho presidencial, disse em uma declaração conjunta com outros três membros do conselho que os Emirados Árabes continuam sendo um parceiro principal na luta contra os houthis.
A declaração rejeitou as ordens de Alimi e disse que elas carecem de consenso.
"Afirmamos categoricamente que nenhum indivíduo ou entidade dentro ou fora do conselho de liderança tem autoridade para remover qualquer país da Coalizão Árabe", dizia a declaração do grupo.
"Este é um assunto regido por estruturas regionais, alianças e acordos internacionais que não estão sujeitos a caprichos ou decisões individuais."
Desde 2022, o STC faz parte de uma aliança que controla áreas do sul fora do controle houthi, sob uma iniciativa de compartilhamento de poder apoiada pela Arábia Saudita.
Os houthis controlam a região norte, incluindo Sanaa, a capital, após forçarem o governo apoiado pelos sauditas a fugir para o sul.
"Continuaremos a impedir qualquer apoio militar de qualquer país a qualquer facção iemenita sem coordenação com o governo legítimo", acrescentou a coalizão.
Fonte: Folha de São Paulo


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