Governo em fim de ciclo e política feita no calor da emoção

Porto Velho (RO) – O artigo que vem ecoando nos bastidores do poder em Rondônia tem um título direto e incômodo: “Amor e política não se faz com raiva”. A frase, repetida por aliados históricos e adversários antigos, resume o clima que hoje domina o Centro Político Administrativo (CPA) e o próprio governo de Marcos Rocha (União Brasil).

Nos últimos meses de 2025, o Palácio Rio Madeira vive um cenário típico de fim de governo, mas com um ingrediente a mais: tensão, ressentimento e decisões movidas mais pela raiva do que pela construção política.


Governo em fim de ciclo e política feita no calor da emoção

Nos corredores do CPA, a percepção é clara: a caneta do governador já não pesa como antes. Secretários começam a buscar novos caminhos, assessores reduzem o ritmo, aliados se afastam em silêncio. É o roteiro conhecido da política rondoniense — quando o poder começa a escoar, a solidão aumenta.

A diferença, segundo observadores políticos, é que o atual governo parece ter optado por enfrentar críticos e adversários com perseguições, inclusive contra setores da imprensa. A estratégia, no entanto, cobra seu preço: desgaste institucional, isolamento político e perda de capital simbólico.

“Política feita com raiva não constrói maioria, não fideliza aliados e não deixa legado”, resume um ex-integrante do primeiro escalão.


Tribunal de Contas e o alerta do rombo bilionário

O clima azedou ainda mais após o Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO) emitir alerta sobre um rombo superior a R$ 1 bilhão nas contas públicas. O aviso acendeu o sinal vermelho e reforçou a leitura de que o governo entrou em modo defensivo.

Pouco depois, Marcos Rocha anunciou que não pretende disputar as eleições de 2026, encerrando qualquer expectativa de continuidade direta do projeto político. A partir daí, segundo fontes do próprio governo, o governador passou a se recolher, reduzindo agendas públicas e evitando embates diretos.


Sonhos eleitorais interrompidos e isolamento político

Dentro do grupo governista, havia quem apostasse em projetos futuros. Nomes como Luana Rocha (União Brasil) e Sandro Rocha (sem partido) eram vistos como possíveis herdeiros políticos. Com a desistência do governador, esses planos teriam sido, nos bastidores, “reprimidos”.

O efeito é visível:
-telefones que antes tocavam sem parar agora ficam no silêncio;
-pedidos de audiência demoram a ser respondidos;
-a imprensa, antes cortejada, reduz espaço e memória afetiva.

Casa Civil também no centro das críticas

A crítica não se limita ao governador. O secretário-chefe da Casa Civil, Elias Rezende, também é citado como parte de uma condução política marcada por enfrentamento e pouca escuta.

Nos bastidores, a avaliação é dura: faltou diálogo, sobrou tensão. E, como ensina a política tradicional, ninguém governa sozinho — muito menos com raiva.


O peso do fim: quando o poder se despede

Em Rondônia, a história se repete. Governos passam, aliados mudam de lado, e o tempo cobra sua fatura. Nos próximos meses, segundo analistas, o cenário tende a ficar ainda mais frio para o atual comando do Estado.

“Daqui a pouco, ninguém vai querer tirar foto. A memória que fica é a forma como o poder foi exercido”, comenta um veterano da política local.


A lição que fica

O artigo “Amor e política não se faz com raiva” resume o momento:

-amor, quando existe, exige cuidado;
-política, quando bem feita, exige diálogo, paciência e construção coletiva.

No CPA, a sensação é de que essa lição chegou tarde. E como a própria política ensina, fim de governo é fim mesmo — sem aplausos, sem plateia e com poucas saudades.