
Reprodução/TJSP
Apesar de contar com 28 anos de prisão por condenações pelos crimes de tráfico de drogas, receptação, associação criminosa e tráfico, o criminoso foi solto do sistema carcerário federal do Rio Grande do Norte, no início de agosto. A defesa dele não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.
A capacidade de articulação, aliada à violência que marcaram a expansão da facção para além das fronteiras paulistas, foram vivenciadas pelo criminoso — que começou sua empreitada marginal com pequenos delitos no litoral de São Paulo, a partir dos quais ascendeu na hierarquia da maior organização criminosa do país. As informações são de relatórios judiciais, obtidos pelo Metrópoles.

Ainda nos anos 1990, Azul já figurava nos registros policiais por roubos e tráfico de drogas. Mas foi na Baixada Santista que consolidou sua posição, controlando pontos estratégicos do comércio de drogas e impondo respeito com uma combinação de “crueldade e disciplina”. Sua influência crescia em paralelo ao fortalecimento do PCC.
Em 2001, ele foi preso no Rio Grande do Sul, ao lado de outros membros da facção, portando armas de grosso calibre. Isso não representou um declínio, mas um salto. A detenção reforçou sua legitimidade interna, transformando-o em elo entre diferentes “quebradas” e conectando-o diretamente às lideranças que operavam já sob o comando de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo da organização criminosa.
Assassinato de PM
A notoriedade de Azul aumentou em 2011, quando foi apontado como o mandante do assassinato do policial militar Fábio Lopes Apolinário, em Santos. O crime, de forte impacto simbólico, evidenciou sua capacidade de desafiar o estado. A partir desse episódio, ele passou a ser monitorado intensamente por órgãos de inteligência.
Nos bastidores da facção, Azul conquistou um posto raro: o de Sintonia Final, núcleo estratégico responsável pelas principais decisões do PCC.
Relatórios oficiais apontam que sua nomeação foi aprovada por Marcola, em 2018, confirmando-o como figura de confiança da cúpula. A posição lhe permitia articular ações em diferentes estados e, até mesmo, em países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, países estratégicos para o tráfico de drogas e armas.
Essa escalada resultou em operações de grande porte, como a do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), deflagrada em novembro de 2020. Chamada de Operação Colorido, ela reforçou o envolvimento direto do criminoso na coordenação de células do PCC na Baixada Santista.
Sua influência não se limitou a São Paulo. No Rio Grande do Norte, relatórios de inteligência o vincularam a massacres em presídios, durante a guerra entre facções. O episódio mais brutal ocorreu em 2017, quando 26 presos foram decapitados em uma penitenciária potiguar.
Embora distante fisicamente, Azul aparecia como articulador das estratégias que expandiam o PCC para o Nordeste, em clara disputa contra rivais como o Sindicato do Crime (SDC).
Sucessivas transferências
A periculosidade de Azul levou a Justiça a autorizar sucessivas transferências para o Sistema Penitenciário Federal, passando por unidades como a de Porto Velho. O objetivo era isolá-lo e reduzir sua comunicação com a facção.
Relatórios mostraram que, no entanto, mesmo atrás de muralhas de segurança máxima, ele seguia dando ordens, muitas vezes por meio de advogados que funcionavam como “pombos correio“.
As condenações que somavam mais de 28 anos de prisão não impediram brechas jurídicas. Recursos, habeas corpus e manobras processuais resultaram em períodos de liberdade, nos quais sua simples presença em São Paulo ou no Nordeste causava inquietação entre integrantes das polícias e do Judiciário.
Sua soltura recente gerou apreensão entre autoridades, que veem nele não apenas um ex-detento, mas um símbolo do PCC, capaz de reorganizar células e intensificar o domínio da facção nos estados onde já deixou sua digitais, em alguns casos, manchadas com sangue.
Fonte: Metropoles
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