
José Hiran da Silva Gallo apontou falhas na regulação do ensino médico e cobrou planejamento para a saúde pública
Porto Velho, RO – Em entrevista ao podcast Resenha Política, conduzido pelo jornalista Robson Oliveira, o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo, discutiu temas relacionados à saúde pública nacional e de Rondônia.
O médico, que ocupa o cargo há quase 30 anos como conselheiro, expressou preocupações com a abertura desenfreada de cursos de Medicina no país, criticou projetos estaduais de aquisição de hospitais privados e destacou a precariedade da rede pública de saúde em Porto Velho.
Segundo Gallo, o Brasil já ultrapassou a Índia em número de faculdades de Medicina, embora possua uma população consideravelmente menor. “Nós só perdíamos para a Índia. Agora estamos ganhando. E lá são 1,5 bilhão de habitantes”, afirmou.
O presidente do CFM defendeu que os critérios estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC) para abertura de cursos não estão sendo respeitados.
“Na época em que me formei, era necessário cinco leitos por aluno. Hoje, muitas instituições funcionam sem estrutura básica, como laboratórios e hospitais próprios”, completou.
Ao abordar a situação de Rondônia, Gallo revelou que o estado possui 11 cursos de Medicina, número que considera desproporcional à população local, estimada em 1,8 milhão de habitantes. “Estamos formando médicos sem qualidade, e isso traz risco direto à população”, declarou.
Ele defendeu a realização de uma prova de proficiência obrigatória para novos formandos, nos moldes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e afirmou ter mudado de posição após constatar o aumento da má formação profissional.
A entrevista também abordou a crise estrutural da rede pública de saúde em Rondônia, especialmente em Porto Velho. Gallo classificou como “sub-humana” a situação do Hospital João Paulo II. “Mesmo com relatórios apontando as deficiências, o hospital continua operando porque não há alternativa para onde levar os pacientes”, disse. Segundo ele, apesar de o Conselho Regional de Medicina de Rondônia (Cremero) ter elaborado documentos sobre a precariedade da unidade, qualquer tentativa de interdição seria revertida judicialmente.
O presidente do CFM também criticou o projeto do governo estadual de adquirir hospitais privados como solução para a crise hospitalar.
“Essa proposta é um erro. Os hospitais privados não estão preparados para funcionar como prontos-socorros públicos”, afirmou. Para Gallo, a única saída eficaz seria a construção de uma unidade específica e planejada para urgência e emergência. “É preciso observar o tráfego, o entorno, e seguir todas as normas da vigilância sanitária. Comprar prédio pronto e adaptar não resolve”, reforçou.
Durante a conversa, o médico lembrou erros do passado, como a centralização dos atendimentos no Hospital de Base e a compra do prédio onde hoje funciona o João Paulo II. “Na época, foram fechados mais de 400 leitos para abrir um hospital com 350”, disse, classificando a medida como equivocada.
Em relação à condução da saúde municipal, Gallo avaliou a gestão do prefeito Léo Moraes como “participativa” e defendeu a decisão do gestor de decretar estado de emergência para viabilizar contratações e aquisições. Contudo, observou que o Ministério da Saúde não reconheceu oficialmente a medida por falta de notificação de doenças pelo município, o que comprometeu o repasse de recursos federais. “Falta planejamento e presença dos secretários nas unidades. Não se resolve problema de saúde de dentro do gabinete”, afirmou.
Sobre a atuação nacional do CFM, Gallo respondeu às críticas de suposto alinhamento com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele afirmou que a instituição manteve sua postura técnica e isenta, defendendo a autonomia do médico durante a pandemia, diante da ausência de protocolo oficial. “Não havia tratamento definido. Demos respaldo à autonomia médica, respeitando a consciência do profissional e do paciente”, explicou.
Em relação à vacinação infantil contra a Covid-19, o presidente do CFM afirmou ser contrário à inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunização. “Os estudos ainda não estão completamente consolidados. Defendo que a decisão caiba aos pais e pediatras”, disse. Por outro lado, reforçou seu apoio às demais vacinas do calendário infantil e lamentou os baixos índices de cobertura no país.
Ao final da entrevista, Hiran Gallo comentou que está disposto a manter diálogo com o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mesmo diante de divergências. “Quando o diálogo acaba, acaba tudo”, disse.
O episódio foi encerrado com agradecimentos do apresentador Robson Oliveira:
“Eu agradeço. Continue. É um patrocínio do nosso diretor Césio Brasil. Nos acompanhe nas plataformas do Resenha Política, pelo site Rondônia Dinâmica e agora pela TV Rema, sábado e domingo às 23h. Nós estamos em outro patamar, igual o meu Flamengo. Um beijo para vocês, fiquem com Deus.”
Fonte: Rondônia Dinâmica
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