Ao total, dez pessoas já foram presas desde quando iniciou a Operação Mandrágora da Polícia Civil.

A morte de Djidja Cardoso completa 15 dias nesta terça-feira (11). Um caso enigmático que envolve abuso de cetamina, um grupo religioso familiar, criado pela família da ex-sinhazinha do Boi Garantido, que promovia o uso indiscriminado da substância anestésica que causa alucinações e dependência, além de 10 pessoas presas suspeitas de praticarem, ao menos, 13 crimes. O g1 preparou um ponto a ponto que mostra esses acontecimentos.

Primeiro contato da família com a cetamina

De acordo com o delegado titular do 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), Cícero Túlio, Ademar Farias Cardoso Neto, irmão de Djidja, teve contato com a cetamina durante uma viagem a Londres. Ao retornar para Manaus, ele conheceu um casal que lhe apresentou o medicamento na forma em pó.

“A partir de então, ele e seus familiares começaram a fazer uma espécie de experimentação para descobrir qual seria a melhor forma de utilização, visando render mais aplicações e consumo. Foi assim que chegaram à forma de aplicação subcutânea, que permite a injeção do medicamento diretamente no tecido que fica abaixo da camada superficial da pele (a derme) e acima do tecido muscular”, explicou o delegado.

Cleusimar, mãe de Djidja e Ademar, além de usar a droga, começaram a fazer uso de um livro chamado "Cartas de Cristo" e a realizar uma espécie de culto, onde faziam uma interpretação equivocada do livro. A partir de então, eles passaram a cooptar outras pessoas, principalmente funcionários do salão de beleza de Cleusimar.

Polícia começa a investigar família

A ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, e o irmão dela, Ademar Cardoso, começaram a ser investigados pela polícia no meio de abril por envolvimento no grupo denominado “Pai, Mãe, Vida”, que forçava o uso de cetamina para alcançar uma falsa plenitude espiritual durante rituais.

Morte de Djidja Cardoso

Djidja Cardoso foi encontrada morta dentro da própria casa, onde morava com a mãe e o irmão, no dia 28 de maio. Segundo uma fonte próxima à família, que não quis se identificar, parentes tentavam contato com ela por telefone e não conseguiam, então resolveram ir à casa da família. Ao entrar no imóvel, por volta das 6h (horário de Brasília), encontraram o corpo sobre a cama.

Velório e homenagem do boi Garantido

Familiares, amigos e o Boi Bumbá Garantido prestaram suas últimas homenagens à ex-sinhazinha Djidja Cardoso, durante velório no dia 29 de maio. No ato, o boi representou o carinho que a sinhazinha costuma fazer nele durante as apresentações no Festival Folclórico de Parintins. O enterro ocorreu horas depois, sem a presença de Cleusimar Cardoso, mãe de Djidja.

Primeira fase da Operação Mandrágora

Dois dias após a morte, a Polícia Civil do Amazonas deflagrou a Operação Mandrágora, que resultou na prisão de Cleusimar e Ademar Cardoso, mãe e irmão de Djidja, além de Verônica Seixas, Claudiele da Silva, todos funcionários da família.

No dia seguinte, após as primeiras prisões, Cleusimar e Ademar Cardoso, Verônica Seixas e Claudiele da Silva passaram por audiência de custódia, tiveram as prisões mantidas e foram encaminhados para unidades prisionais.

O quinto suspeito de envolvimento no crime, o maquiador do salão, Marlisson Vasconcelos, se entregou na delegacia e também foi preso, no fim da tarde.

Em novas buscas, a Polícia Civil do Amazonas apreendeu cetamina, ampolas e seringas em salões de beleza da família da ex-sinhazinha do Boi Garantido e em uma clínica veterinária.

Marlisson Vasconcelos passou por audiência de custódia, a Justiça do Amazonas manteve a prisão do maquiador e ele foi levado para um presídio.

Ex-namorado e falso personal trainer prestam depoimento

O personal trainer Bruno Roberto, ex-namorado de Djidja Cardoso, prestou depoimento à polícia como testemunha. Conforme apuração da Rede Amazônica, ele contou que teria se afastado da ex-sinhazinha e do grupo religioso criado pela família dela após ser advertido por um médico sobre os riscos do uso da cetamina.


Bruno Roberto, ex-namorado de Djidja Cardoso, presta depoimento em Manaus — Foto: Rede Amazônica

Porto Velho, RO - O homem que se passava por personal trainer da família Cardoso, Hatus Silveira, revelou que Djidja Cardoso aplicou cetamina de surpresa nele durante uma visita até a casa onde ela morava. Ele prestou, durante duas horas, depoimento à polícia sobre a relação que teve com a família Cardoso.

Carro de Djidja é encontrado abandonado

A polícia também encontrou o carro que ela usava abandonado em um estacionamento, na avenida Álvaro Maia, bairro Praça 14, Zona Sul da capital do Amazonas. O advogado do ex-namorado da sinhazinha, Bruno Roberto, foi até a delegacia e informou que ele teria deixado o veículo no local após uma pane mecânica enquanto ele ia para o velório dela.

Polícia investiga se avó de Djidja Cardoso morreu após receber dose de anabolizante

A Polícia Civil do Amazonas passou a investigar se a avó da ex-sinhazinha Djidja Cardoso, Maria Venina Cardoso, que tinha 82 anos, morreu após receber uma dose de anabolizante. O remédio teria sido aplicado por Cleusimar Cardoso, Djidja e o namorado dela na época, Bruno Roberto.

Segundo informações obtidas com exclusividade pela Rede Amazônica, em depoimento, um dos familiares de Djidja, que não quis se se identificar, afirmou que na época da morte da avó, em junho de 2023, o trio ficou hospedado na casa da idosa, mãe de Cleusimar, em Parintins, no interior do estado, para acompanhar o Festival Folclórico.

Justiça concede prisão domiciliar à maquiadora

A Justiça do Amazonas concedeu nesta quarta-feira (5) prisão domiciliar à maquiadora Claudiele Santos da Silva, que trabalhava no salão de beleza de Djidja Cardoso. O advogado disse, ainda, que a tese usada pela defesa foi o fato de Cleudiele precisar cuidar de uma filha que tem menos de 2 anos.


Claudiele Santos da Silva, maquiadora do salão de beleza Belle Femme, foi presa junto da mãe e irmão de Djidja Cardoso, além de funcionários do estabelecimento da família. — Foto: Arquivo Pessoal

CNPJ de salão de beleza da família Cardoso tem registro de atividade veterinária

O CNPJ de uma das unidades do salão de beleza da família de Djidja Cardoso, encontrada morta no último dia 28, em Manaus, tem registro de atividade veterinária.

As investigações apontam que já havia sido feita uma alteração na Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) da rede de salões de beleza da família Cardoso. Eles pretendiam abrir uma clínica veterinária para facilitar o acesso ao medicamento.

Segunda fase da Operação Mandrágora

O ex-namorado de Djidja Cardoso, Bruno Roberto, e o coach da família Cardoso, Hatus Silveira, além de dois funcionários de uma clínica veterinária foram presos na sexta-feira (7), em uma nova fase da investigação que apura a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido.

De acordo com a polícia, a prisão foi motivada por divergências entre os depoimentos coletados pela polícia e os dados obtidos após a quebra do sigilo telefônico dos dois.

No dia seguinte, o proprietário da clínica veterinária apontada como fornecedora de cetamina para a família de Djidja Cardoso, José Máximo de Oliveira, se entregou à polícia.

Imagens mostram últimas horas de Djidja Cardoso com vida

Novos vídeos, obtidos com exclusividade pela Rede Amazônica, mostram as últimas horas de vida de Djidja Cardoso. As imagens foram gravadas no fim da noite de 27 de maio e na madrugada de 28 de maio, data da morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido.

No registro, feito pelo ex-namorado de Djidja, Bruno Roberto, é possível vê-la segurando um frasco de cetamina na mão esquerda e uma seringa, na mão direita. Bruno pede para a ex soltar a droga. Ela resiste.

Em outro vídeo, Djidja aparece na cama enquanto procura a tampa de uma seringa. Bruno reclama que quer dormir e como resposta, ouve: “eu vou me aplicar”.

“Eu tentei”, diz o ex-namorado. Djidja pergunta “tentou o que?”, e Bruno responde:

“Te salvar. Mas olha aí como tu tá. Tu não quer parar de usar isso.”

Fonte: G1