Roberto Soriano, o Tiriça, número dois na hierarquia da facção, é proprietário oculto de um time de futebol amador sediado em São Paulo

Porto Velho, RO - Mesmo atrás das grades, integrantes de grandes facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), diversificam seus negócios nas ruas para lavar o dinheiro do crime e dar um ar de legalidade aos empreendimentos. Faccionados perceberam a oportunidade de investir até no universo da bola, comprando times de futebol.

Roberto Soriano, o “Tiriça” (foto em destaque) e número dois na hierarquia da facção — que atualmente se tornou inimigo do líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola —, por exemplo, é o proprietário oculto de um clube amador sediado em São Paulo. A coluna não irá divulgar o nome do clube para não expor jogadores e comissão técnica.

Apurações conduzidas por autoridades federais identificaram que o time é gerido pela família de Soriano, mas o nome de outra pessoa figura como sócio-proprietário no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).



Marcola, líder do PCC Hugo Barreto/Metrópoles

Marcola x Tiriça

Apurações conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) revelam um racha histórico na cúpula do PCC. O principal motivo seria um diálogo gravado entre Marcola com policiais penais federais na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o detento chegou a afirmar que Tiriça era um “psicopata”.

A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Roberto Soriano. O criminoso, que cumpre pena atualmente na Penitenciária Federal de Brasília, junto a Marcola e outros líderes do PCC, foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo.

A servidora pública trabalhava na penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas (PR) e teria sido vista pelos criminosos como um “alvo fácil”. O crime, cometido em 2017, seria uma ação do PCC contra o rigor do regime adotado no Sistema Penitenciário Federal (SPF).

“Opressão”

Segundo as investigações, a facção considera que os presos sofrem “opressão” do Estado pelo fato de o esquema de segurança não prever visitas íntimas e de o contato com advogados e parentes ser estritamente por meio de parlatório, o que não favorece a entrada de drogas, celulares e, sobretudo, a entrega de bilhetes nas prisões.

Como divulgado com exclusividade pela coluna Na Mira, a primeira conversa ocorreu em junho de 2022. Na ocasião, Marcola falou sobre a “imagem” que as pessoas têm dele. Camacho chegou a dizer que não é um “cara bonzinho”, mas “perigoso de verdade”. Porém, destacou não ser a favor da “violência gratuita”.

Marcola continuou a fala afirmando não ser da “política” dele matar agentes penitenciários. Contudo, disse que alguns faccionados foram executados por determinação dele, “mas por outras circunstâncias”. O preso emendou alegando que “era espancado” na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), a 600 km da capital paulista, onde cumpriu pena antes de dar entrada no sistema federal.

Também reforçou que, no SPF, “sempre foi respeitado por todos os agentes”. O 01 do PCC desabafou, ainda, sobre a suspeita de mandar matar servidores e alegou que “poderia se tornar um psicopata desses igual ao Soriano” e que “não é isso”, pois “não é da natureza” dele.

Fonte: Metropoles