Porto Velho, RO - A Operação Presságio, que eclodiu em Florianópolis na última quinta-feira (18), apresenta novos desdobramentos. Algumas perguntas ainda não foram respondidas, tal qual, por exemplo, como Ed Pereira, ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte, teria utilizado a conta de sua esposa, Samantha Brose, para receber dinheiro?
Segundo a investigação policial, a quebra de sigilo bancário de Samantha revela movimentações financeiras suspeitas. Apesar de possuir uma renda próxima a um salário mínimo, foram identificados R$ 324.745,17 em transações durante o período sob investigação, iniciado em 2021.
A defesa do casal afirma que Ed Pereira possui fontes de renda totalmente lícitas e argumenta que o caso será esclarecido.

Outro ponto relevante são os 55 depósitos em dinheiro vivo na conta de Samantha, totalizando R$ 90.560,00. Alguns desses depósitos coincidem com saques realizados em Florianópolis, por uma pessoa também alvo da operação.
As autoridades policiais indicam que os recursos destinados a Samantha, na verdade, beneficiavam seu esposo, Edmilson Pereira, conhecido como Ed Pereira.
As transações no valor de R$ 16 mil realizadas por René Raul Justino, atual Diretor de Projetos da Fundação Franklin Cascaes, vinculada à Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer liderada por Edmilson, também estão sob minucioso exame, suspeitando-se que possam ter sido encaminhadas para Ed por meio de Samantha.
René, reconhecido por sua proximidade com Edmilson e por atuar como assessor parlamentar, também é objeto de investigação.
Como começa a investigação contra Samantha
Outra linha de investigação alcança Samantha. Segundo a Polícia, isso ocorreu durante a análise dos dados bancários de Carlos Henrique Xavier Faria, proprietário da empresa Amazon Fort. Foi identificada uma transferência de R$ 49,9 mil para a conta de Gilliard Osmar dos Santos, Gerente de Fiscalização de Obras da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de Florianópolis, em 27 de abril de 2021.
Há suspeitas de que Gilliard possa ter atuado como intermediário de um agente político, recebendo possíveis valores de corrupção para repassar a Edmilson Pereira.
O valor da transferência, abaixo do limite de R$ 50 mil que demanda comunicação obrigatória ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), sugere uma possível tentativa de contornar regulamentações devido à origem ilícita dos fundos.
Além disso, Gilliard é identificado como remetente de oito transferências para Samantha Brose, totalizando R$ 2.726, o que reforça a suspeita de ocultação do fluxo financeiro até Edmilson Pereira, por meio das contas de sua esposa. A análise temporal entre encontros e depósitos levanta questionamentos sobre a natureza dessas transações, especialmente após o aditamento do contrato em 17 de abril de 2021.
Esses fatos, segundo a investigação, sugerem possíveis conexões entre os envolvidos, o que culminou na investigação contra Samantha. Durante a análise policial, também foi descoberto que Samantha recebeu repasses significativos, totalizando R$ 14.7 mil do Instituto Bem Possível, levantando questionamentos sobre a natureza dessas transações.

Ilustração mostra possível parte do esquema – Foto: Reprodução/Processo Policial/ND
As tentativas de justificar tais recebimentos incluíram a hipótese de vínculo empregatício. No entanto, verificações no Ministério do Trabalho e Emprego revelam que Samantha está registrada como recepcionista no Parador 12 na Praia de Jurerê, lançando dúvidas sobre a origem de sua remuneração.
Além das transações com o Instituto Bem Possível, Samantha recebeu transferências de Gilliard e Anderson Martins da Silveira. Este último, que assina contratos com a organização social, atua como Secretário da Comissão de Seleção da Fundação Municipal de Esportes, sem aparente vínculo comercial conhecido com Samantha.
A Polícia chegou à análise do extrato bancário que revelou seis transferências no total de R$ 16 mil, provenientes de René Raul Justino, assessor próximo de Edmilson Carlos Pereira, mencionados no início da matéria.
Instituto Bem Possível e o fio condutor da história
Ainda na investigação, a Polícia aponta que este é um “esquema de corrupção enraizado em Florianópolis“, caracterizado pelo desvio e apropriação de verbas públicas para benefício pessoal.
Edmilson Pereira, o Ed Pereira, ocupando o cargo de Secretário Municipal, é apontado como peça central, realizando repasses aparentemente legais para o Instituto Bem Possível. Parte desses recursos, conforme apurado, retorna para seu controle por meio da conta bancária de sua esposa, Samantha Brose.
O Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina reforça essas descobertas ao condenar solidariamente o Instituto Bem Possível e Edmilson Pereira ao pagamento de mais de R$ 100 mil por irregularidades na aplicação e prestação de recursos públicos. A decisão também os impede de receberem novos recursos públicos.
Para entender como Samantha retorna para a história, precisamos citar mais um nome: Bernardo Fernandes Santos, atual Presidente do Instituto Bem Possível.
Santos é incluído na investigação devido à sua participação no suposto esquema de corrupção. Como signatário dos últimos Termos de Colaboração entre a organização e a Fundação Municipal de Esportes, Bernardo é apontado como outro envolvido no rateio de verbas públicas.
De acordo com a investigação, entre 2021 e 2023, o Instituto recebeu cerca de R$ 214 mil da Fundação Municipal de Esportes, embora a equipe de investigação enfrente dificuldades para obter informações precisas nos portais de transparência da Prefeitura Municipal de Florianópolis.
A assinatura de três Termos de Colaboração por Bernardo Fernandes Santos ocorre no mesmo ano em que Samantha Brose recebe valores em sua conta bancária, provenientes do Instituto Bem Possível, “destacando a possível participação de Samantha nos eventos sob investigação”.
Defesa dos acusados
O portal ND Mais entrou em contato com o advogado Guilherme Fernandes Cirimbelli, que faz a defesa de Ed e de sua esposa, que explicou que há outras fontes de renda de Ed Pereira, para além das contas públicas. Confira:
O Sr. Edmilson possui, além da remuneração paga pela Prefeitura, outras fontes lícitas de renda, igualmente à sua esposa, Sra. Samantha, que serão devidamente comprovadas nos autos, em momento oportuno. A busca e apreensão, com a colheita das provas, ainda não foi finalizada. Muitos documentos que foram apreendidos, e outros que serão oportunamente trazidos, servirão para esclarecer os fatos, e comprovarão a inocência dos nossos clientes. Estamos confiantes que se fará Justiça, ante as infundadas acusações. Att. Guilherme Fernandes Cirimbelli.
O que é a Operação Presságio?
A Operação Presságio é coordenada pela Deic (Delegacia de Investigação de Crimes Ambientais e Crimes contra Relações de Consumo). As ações foram deflagradas em 18 de janeiro com o cumprimento de 24 mandados de busca e apreensão nas cidades de Florianópolis, Brasília e Porto Velho (RO).
As buscas foram realizadas nas residências dos investigados e em seus locais de trabalho, entre eles a Prefeitura de Florianópolis e Câmara de Vereadores da capital.
Nos locais, foram apreendidos aparelhos eletrônicos, especialmente telefones celulares e documentos relacionados aos fatos sob investigação.
A apuração se concentra no contrato entre a prefeitura de Florianópolis e a empresa Amazon Fort, com sede em Porto Velho (RO). A empresa foi contratada emergencialmente para coleta de lixo em 2021 para cobrir dez dias de greve de trabalhadores municipais que prestavam o referido serviço, mas permaneceu por 17 meses após duas renovações de contrato.
Quais os crimes investigados?
Crime ambiental de poluição;
Fraude à licitação;
Corrupção passiva e corrupção ativa;
Associação criminosa; e
Lavagem de dinheiro.
Fonte: ANA SCHOELLER / Portal ND Mais
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