Invasão Secreta dá pistas do que deu errado para os Skrulls após Capitã Marvel
junho 29, 2023
Porto Velho, RO - O ressentimento de Gravik (Kingsley Ben-Adir) com Nick Fury (Samuel L. Jackson) e a humanidade soou deslocado no episódio de estreia de Invasão Secreta. Sua impaciência era aparente e até compreensível. Mas, até aquele momento, não havia indícios palpáveis do que de tão grave teria acontecido no intervalo de 30 anos desde a chegada dos alienígenas na Terra para que ele fosse capaz de algo tão cruel quanto matar Maria Hill (Cobie Smulders).
Afinal, por que ele queria tanto ferir o antigo diretor da S.H.I.E.L.D., a ponto de sacrificar uma inocente no processo? Por sorte, “Promessas”, o segundo capítulo da série, se compromete a preencher algumas destas lacunas, deixadas desde o final de Capitã Marvel.
Se em 1995 Talos (Ben Mendelsohn) e algumas dezenas de Skrulls foram guiados por Carol Danvers (Brie Larson) rumo ao espaço na esperança de um novo lar, em 1997 o general já estava de volta, derrotado e disposto a servir de espião a Fury em troca de uma casa temporária.
“Só o que achamos foi violência e ódio”, foram as poucas palavras que ele usou para expressar sua frustração após dois anos. Mas ele não precisava dizer mais para ter a compreensão dos seus conterrâneos, que também pareciam ver com bons olhos a oportunidade que tinham diante de si.
Entre eles, estava o jovem Gravik, que acabara de perder seus pais na última batalha contra os Kree — e já ali ele dava pistas da sua determinação. Depois de escapar das linhas inimigas, pilotar uma nave sozinho e chegar àquela reunião, ele ouviu de um líder que tomou como confiável que seu trabalho de espionagem seria recompensado com um recomeço para Skrullos. Na verdade, ele gravou as palavras de Fury: “se mantiverem sua palavra, manterei a minha”, frase essa que não se provou verdadeira nas décadas seguintes.
O episódio não se aprofunda no que o antigo diretor da S.H.I.E.L.D. queria alcançar com os Skrulls, nem ao que os expôs — o máximo de explicação que se tem é que a humanidade estava diante de “uma grande ameaça”, o que é o equivalente a uma quarta-feira no MCU. Ainda assim, diante desse acordo manipulador, firmado inclusive com crianças, não dá para falar que Fury não tenha mesmo sua parcela de responsabilidade.
Por mais bem intencionado que ele pudesse ser, foi mais confortável para ele manter um grupo de alienígenas na Terra do que criar esforços verdadeiros para enfrentar as investidas Kree no espaço — até porque tudo isso aconteceu antes da iniciativa Vingadores, ou seja, talvez os humanos sequer tivessem alguma chance num conflito como esse. E, entre arriscar a vida de humanos ou Skrulls, ele fez a sua escolha.
No entanto, não dá para dizer que a quebra de confiança de Fury foi a única razão para que as coisas tenham dado errado para os Skrulls — no caso, só pontua por que Gravik quer se vingar dele, mas não da humanidade. Mesmo que o vilão e até o Talos hesitem em reconhecer isso, não foi o humano quem os expulsou de Skrullos, nem os perseguiu pelo espaço afora. A culpa, nesse sentido, é dos Kree, seus adversários históricos… Certo?
Bem, antes que o espectador possa chegar a essa conclusão, natural e lógica dada as peças à sua disposição, “Promessas” bota Gravik para encarar sua hipocrisia. Sentado à mesa do conselho Skrull, ele ouve a seguinte frase da única aliada a se opor à sua nomeação como general: "não nos tornamos refugiados sem um lar porque não queríamos entrar em guerra. Nos tornamos refugiados sem um lar porque queríamos a guerra".
Quer dizer, os Skrulls não são exclusivamente vítimas, como Capitã Marvel estabeleceu. Existiu, ao menos por um período, um anseio pela guerra — anseio este que volta com Gravik. Essa informação é essencial não só para adicionar nuance à tal Invasão Secreta, mas também para dar lampejos das outras razões por trás do plano de dominação global.
Há um fator emocional forte ali, uma intenção de resgatar a coragem e o espírito desafiador de outrora — e, não esqueçamos: uma memória importante, já que, quando criança, Gravik assistiu à morte dos pais em batalha, e por isso quer ter honra semelhante, para si e para seu povo.
O que deu errado para os Skrulls, portanto, é bem mais complexo e emotivo do que a série está disposta a explicar com profundidade — ao menos, por enquanto. Mas, certamente, Capitã Marvel não foi o começo. E, talvez, Invasão Secreta sequer seja o final.
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