
Especialistas indicam que a ferramenta não substitui o acompanhamento de profissional da saúde
Porto Velho, RO - Depois de psicólogo e guia de viagens, o ChatGPT agora assume função de personal trainer e nutricionista. Especialistas apontam, porém, que o acompanhamento de um profissional qualificado não pode ser substituído pela inteligência artificial.
Gisela Gomes, 20, já utilizou a ferramenta para criar treinos, e considera o resultado satisfatório. "Eu gostei do treino que o chat passou. Ele criou uma tabela bem otimizada com base nas orientações que eu passei, com treinos de 30 a 40 minutos, que era o que eu estava procurando", diz ela, que é estudante de administração.
Dando as especificações corretas, ela afirma que o chat pode dar respostas satisfatórias, mas se preocupa com a veracidade e precisão das informações. Quando solicitou uma dieta à ferramenta, o resultado não foi muito positivo. "Eu pedi para ele montar uma dieta uma vez e comparei com a da minha nutricionista. Algumas coisas estavam em excesso e outras eram genéricas demais."
Por causa das limitações da ferramenta, Gisela começou a desconfiar de algumas respostas, e considera que a ferramenta não substitui profissionais qualificados. "Acho que para quem não tem nenhum conhecimento prévio do assunto é bem arriscado."
A percepção de Gisela após utilizar o ChatGPT confirma as recomendações de especialistas. O personal trainer Yuri Motoyama afirma que muitos alunos testam por curiosidade, mas que, em geral, eles não seguem uma rotina com base nas indicações da inteligência artificial.
A falta de cuidado com a veracidade das informações faz o profissional considerar o uso do chat para esta finalidade perigoso. Além da possibilidade de indicações falsas, Motoyama alerta para a falta de especificação do treino sugerido.
"Quando a gente vai montar um treino, a gente precisa fazer uma anamnese, ver o histórico de exercícios da pessoa, quais as preferências dela e ajustar esse treino também às suas limitações", afirma especialista. "É um acompanhamento diário, e se for necessário a gente altera o treinamento no dia a dia. O ChatGPT não faz esse acompanhamento."
O uso da plataforma para este fim também aumenta o risco de lesão. Muitas vezes, a ferramenta pode sugerir uma intensidade de treino ou carga que ultrapassam a capacidade do usuário. Além disso, pode fazer o praticante realizar os movimentos da maneira errada, algo prejudicial.
Esse também é um dos principais apontamentos negativos do advogado Alexandre Alvarenga, 27, que já testou a ferramenta para treinar.
Ele afirma que o chat indica os nomes dos exercícios, mas não explica como é feita a execução. "Às vezes você precisa recorrer a outras mídias, como o YouTube, para entender o exercício que você não conhece", pontua.
Alexandre também considera as informações passadas pelo chat muito genéricas. Segundo ele, todas as vezes que solicitou a criação do treino, mesmo pedindo com informações diferentes, o resultado foi parecido.
Para o advogado, porém, a praticidade e gratuidade da ferramenta podem ser atrativos para alguns. "Acho que pode ser interessante para quem não pode pagar [acompanhamento profissional], mas se isso for uma opção, não vale a pena", diz.
O nutricionista Dennys Cintra, coordenador do Laboratório de Nutrigenômica da Unicamp (Universidade de Campinas), afirma que a ferramenta pode ser útil, mas quando o assunto é atendimento à saúde suas limitações são muitas.
"A nutrição e a ciência do esporte são subvalorizadas porque aparentemente não apresentam riscos, mas isso não é verdade", pontua. "É o mesmo risco de utilizar o ChatGPT como médico e aceitar aquela prescrição."
O especialista ressalta que, tanto para a recomendação de treinos quanto de dietas, o tratamento precisa ser individualizado. Segundo ele, o mesmo plano alimentar pode ter efeitos diferentes para cada pessoa, e existem questões relacionadas ao metabolismo que não serão consideradas pela máquina ao fazer as sugestões.
"Ele pode nortear, mas para o tratamento de um indivíduo, vai falhar. A chance de indução a um erro é enorme", diz.
Fonte: Folha de São Paulo
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