Durante a madrugada, ele havia anunciado em uma rede social o afastamento do Senado e a saída definitiva da política

Porto Velho, RO - O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse na manhã desta quinta-feira (2) que desistiu de renunciar ao mandato. Durante a madrugada, ele havia anunciado em uma rede social o afastamento do Senado e a saída definitiva da política.

O parlamentar negou ainda que o então presidente Jair Bolsonaro tenha sugerido um plano para dar um golpe de Estado. Segundo ele, a proposta teria partido do então deputado Alexandre Silveira (RJ), na presença de Bolsonaro, que não teria se manifestado sobre o assunto.

De acordo com o senador, a publicação sobre uma eventual renúncia se deu "em um momento de muita raiva", após ter sido chamado de "traidor" por internautas. Na noite de quarta-feira (1), integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) teriam criticado Marcos do Val por supostamente apoiar o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na eleição para a Presidência do Senado.

― Foi aquele desabafo. Quando você está nervoso, você fala coisas. Como em qualquer discussão de casal, depois você se arrepende do que fala. Nunca fui político. Quando você entra aqui, tem hora que a gente fica com vontade de ir embora. Foi um desabafo na minha rede social.

Quando disse isso, eu estava praticamente decidido mesmo a reunir a equipe e tomar a decisão. Naquela hora que eu postei, se fosse num horário comercial, eu teria saído. Mas, quando acordei, comecei a falar: "Se eu sair, não vou mostrar o resultado do meu trabalho". Minha equipe me pediu para que eu ficasse ― disse em entrevista coletiva.

Golpe de Estado

Antes anunciar um eventual afastamento do Senado, Marcos do Val fez uma transmissão ao vivo pela internet. No vídeo, o parlamentar disse ter sido pressionado pelo então presidente da República Jair Bolsonaro a participar de um plano para dar um golpe de Estado. "Vocês esperem. Eu vou soltar uma bomba aqui para vocês: sexta-feira, vai sair na [Revista] Veja, a tentativa do Bolsonaro, que me coagiu para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele. Só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei", disse o senador na madrugada desta quinta-feira.

Após a transmissão de Marcos do Val, a Veja publicou reportagem sobre o assunto. De acordo com a revista, o parlamentar teria participado de uma reunião no Palácio da Alvorada a convite de Jair Bolsonaro e do então deputado federal Alexandre Silveira (RJ). No encontro, ocorrido em dezembro passado, Bolsonaro e Silveira teriam sugerido que o senador capixaba fizesse uma gravação clandestina com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

A intenção, sempre de acordo com a Veja, seria "captar algo comprometedor" que servisse como pretexto para prender Alexandre de Moraes e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a publicação, Marcos do Val denunciou o caso pessoalmente ao presidente do TSE.

Durante a entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, Marcos do Val negou que a proposta de "grampear" Alexandre de Moraes tenha partido de Jair Bolsonaro. De acordo com o parlamentar, a proposta foi feita apenas por Daniel Silveira e que o então presidente da República limitou-se a ouvir a sugestão.

Repercussão

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), as acusações atribuídas a Marcos do Val são "de extrema gravidade".

― O Congresso Nacional deve acompanhar par e passo. Suponho que o ministro Alexandre de Moraes e o STF devem instalar algum tipo de investigação específica sobre isso. Até porque, se for verdadeira essa informação pelo senador Marcos do Val, há indícios extremamente fortes da participação direta do ex-presidente da República em uma tentativa de golpe ― afirmou.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu a apuração do caso. Mas disse que a situação narrada pelo senador Marcos do Val "não configura nenhuma espécie de crime".

― O senador Marcos do Val já havia me relatado o que tinha acontecido, que isso iriar ser trazido a púbico, contudo numa linha de que essa reunião, que aconteceu, seria uma tentativa de um parlamentar de demover as pessoas que estavam nesta reunião de fazer algo absolutamente inaceitável, absurdo e ilegal. O que peço aqui, obviamente, é que todos os esclarecimentos sejam feitos. Não digo abertura de inquérito porque a situação narrada não configura nenhuma espécie de crime ― disse.

Fonte: Portal SGC