Apresentador e pai do governador do PR afirma que é preciso descer do palanque

Porto Velho, RO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL) precisam descer do palanque e trabalhar pelo Brasil, defende o apresentador de TV e ex-deputado Ratinho, que apoiou o ex-presidente na eleição. Ele também diz que deseja que Lula faça um bom governo.

Pai do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), o apresentador afirma que "acabou o jogo, as torcidas têm que ir para casa tocar a vida". "Nós estamos no palanque, toda hora Lula falando de Bolsonaro, toda hora Bolsonaro falando de Lula. Pare. Vamos parar, vamos trabalhar pelo Brasil."

Ratinho falou com a reportagem em sua casa na região de Orlando, no sudeste dos Estados Unidos, no mesmo condomínio onde Bolsonaro está hospedado há quase um mês.

Ele diz que tem o imóvel há oito anos e que costuma passar os meses de janeiro nos EUA —afirma, porém, que não gosta de frequentar os parques da Disney, que ficam a poucos minutos da casa.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, é o convidado desta terça-feira do programa do RatinhoJair Bolsonaro, presidente do Brasil, é o convidado desta terça-feira do programa do Ratinho

Bolsonaro e Ratinho são próximos e foram eleitos juntos para a Câmara em 1990, na primeira eleição de Bolsonaro como deputado. Ao contrário do ex-militar, Ratinho cumpriu apenas um mandato e deixou a Câmara em 1994, quando passou a se dedicar à carreira de apresentador.

Ratinho, no entanto, ainda não se encontrou com o ex-presidente, mesmo estando a menos de dez minutos a pé um do outro.

Bolsonaro tem sido retratado como uma presença "tóxica", sobretudo desde os ataques em Brasília em 8 de janeiro, e não se encontrou com apoiadores de renome nos Estados Unidos. Ratinho nega que haja desconforto, mas afirma que quer deixar Bolsonaro descansar.

Ele apoiou o ex-presidente na campanha de 2022 e pediu votos para Bolsonaro. Na eleição, chegou a falar que "a quadrilha se juntou de novo", referindo-se aos que compuseram a frente para eleger Lula e citou a hoje ministra do Planejamento, Simone Tebet, dizendo que ela havia entrado para a "quadrilha".

Em 2021, defendeu um golpe militar durante um programa da rádio Massa FM, da qual é proprietário.

"Eu sei que o que vou falar aqui pode até chocar, mas está na hora de fazer igual fez em Singapura. Entrou um general, consertou o país e, um ano depois, fez eleições. Mas primeiro consertou, chamou todos denunciados e disse: 'Vocês têm 24 horas para deixar o país ou serão fuzilados'. Limpou Singapura", disse.

Agora, ele afirma que é preciso "torcer para o Brasil" e que está à disposição a qualquer momento que Lula quiser conversar. "Nós estamos no mesmo navio. Eu não quero que o Lula seja um mau presidente, quero que seja um bom presidente", afirma.

Ratinho nega ser bolsonarista, mas afirma que ainda acredita que o ex-presidente era a melhor opção na eleição e diz que Bolsonaro entregou um país melhor do que encontrou, sobretudo na área da economia.

"Não sou bolsonarista, sou de centro-direita. Coincidiu de o Bolsonaro ser o candidato mais forte da centro-direita, da direita, sei lá. Coincidiu, mas eu não sou fanático, concordar com 100% do que ele faz? Não concordo", afirma.

Ratinho diz discordar do modo como Bolsonaro conduziu a pandemia da Covid-19 e que chegou a pedir que ele se vacinasse contra a doença.

"Sempre tive intimidade, desde que fui deputado junto com ele. Fui entrevistar ele, falei: ‘Presidente, toma a vacina, o senhor precisa dar exemplo’. Mas ele não quis tomar", diz.

"Eu não concordei com aquela ideia de ele ficar falando de cloroquina. Não concordava porque acho que é uma coisa da medicina. O presidente tem que atender o ministro da Saúde, não mandar no ministro da Saúde."

O apresentador diz que não sabe se apoiaria Bolsonaro em uma eventual candidatura em 2026. Seu filho, o governador Ratinho Júnior, reeleito em primeiro turno com 69% dos votos, tem dado sinais de que quer disputar a próxima eleição presidencial.

Em entrevista ao Globo após ser reeleito, disse: "Se vai ser eu [o novo líder da direita], não sei, mas alguém nós vamos ter que apresentar para o país para ser uma alternativa no futuro."

Fonte: Folha de São Paulo