Candidatos também contam com votos em partidos rachados como União Brasil, Podemos e PSDB

Porto Velho, RO - 
Na reta final das eleições para a presidência do Senado, que será na quarta-feira (1º), aliados do senador eleito e ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN) apostam no apoio de partidos rachados e em traições para tentar vencer o favoritismo do presidente atual, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

No Senado, os votos da base governista dão fôlego à candidatura de Pacheco, mas a situação é bem menos confortável que a do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que deve conquistar a presidência da Câmara dos Deputados com facilidade —e sem adversários competitivos.

Para fortalecer a candidatura de Marinho, o PL acertou a formação de um bloco com PP e Republicanos. Esses partidos foram a sustentação ao governo de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso. Juntos, reúnem 23 senadores.

Já PT e PDT anunciaram publicamente que estarão com Pacheco, mas o mineiro terá também o apoio do próprio PSD e dos demais partidos da base aliada: MDB, PSB, Rede e Cidadania —que somam 39 senadores.

"O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, demonstrou um comportamento em defesa da democracia irrefutável. Eu acho que o melhor terreno para plantar e colher direitos é a democracia", afirmou na quinta (26) o futuro líder da bancada do PT, Fabiano Contarato (ES).

Apesar da diferença, tanto Pacheco como Marinho contam votos de senadores de três siglas que acumulam divergências internas e decidiram ficar independentes em relação ao governo Lula (PT): União Brasil, Podemos e PSDB, que somam 19 senadores.

Também corre por fora na disputa Eduardo Girão (Podemos-CE), mas o senador não conta com o apoio nem do próprio partido. O líder do Podemos, Oriovisto Guimarães (PR), afirma que a legenda deve liberar os cinco integrantes da bancada.

"A gente tem conversado por telefone e não acredito que o partido vá assumir uma posição. Tem senadores de um lado e de outro, e não podemos quebrar o partido por causa de uma eleição."

"Não tem como fechar questão [definir a posição do partido e orientar a bancada] nesse assunto porque o voto é secreto. Tem muito partido que está dizendo que todos os senadores vão votar no candidato tal, mas em todos há divergentes", completa.

Outra sigla que reúne eleitores de Pacheco e Marinho é a União Brasil, com dez membros. A bancada é liderada por Davi Alcolumbre (AP) —um dos principais aliados do atual presidente do Senado—, mas também conta com o bolsonarista Alan Rick (AC) e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (PR).

Senadores que têm conversado com Moro dão como certo o voto dele em Marinho. Questionado sobre o assunto nesta quinta, Moro afirmou à Folha que só ele fala por si, que ainda avalia as três candidaturas e que sua decisão não está tomada.

Em caso de vitória de Pacheco, Alcolumbre deve presidir a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) —a principal comissão da Casa— por mais dois anos. Ele tem participado ativamente das articulações pela reeleição do presidente.

Parlamentares do PL dizem que Marinho também tem votos em partidos da base governista e ressaltam que a votação é secreta. A divergência, apontam, existe inclusive no PSD, sigla de Pacheco.

Uma das dúvidas é sobre o voto de Lucas Barreto (PSD-AP), rival político no Amapá de Alcolumbre e do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Questionado pela Folha, o senador afirmou que a votação é secreta e que não vai revelar seu voto.

Nesta sexta (27), durante reunião da bancada do PSD, ao menos dois senadores se queixaram do papel de Alcolumbre na negociação de comissões e cargos na Mesa Diretora. Diante dos atritos, a bancada não anunciou apoio a Pacheco abertamente após o encontro.

Na quinta, Marinho fez questão de agradecer o apoio da emedebista Ivete da Silveira (SC), que assumiu a vaga de Jorginho Mello (PL), eleito governador de Santa Catarina. O MDB não só apoia a reeleição de Pacheco, como pretende manter na vice-presidência Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).

A eleição para presidente do Senado virou motivo de batalha nas redes sociais. Nos últimos dias, aliados de Marinho lotaram a caixa de email dos senadores, ligaram para os gabinetes, mandaram mensagens e comentaram em publicações na Internet.

Na segunda (23), Weverton Rocha (PDT-MA) fez questão de repudiar a conduta dos bolsonaristas ao anunciar apoio a Pacheco. O senador disse que os parlamentares estão sendo pressionados por "covardes", que acham que vão "intimidar" —o gabinete dele afirma ter recebido mais de 500 emails.

Diante da reclamação dos colegas, o ex-líder do governo Bolsonaro Carlos Portinho (PL-RJ) pediu que os apoiadores de Marinho cobrassem os senadores "civilizadamente". A assessoria do senador eleito afirma que o movimento é espontâneo e que não concorda com tentativas de intimidação.

União Brasil, Podemos e PSDB devem reunir as bancadas na segunda (30) e na terça (31), às vésperas da eleição, que ocorre no dia 1º. Para vencer a disputa, o candidato precisa obter 41 dos 81 votos em primeiro ou segundo turno.

A eleição para a Mesa Diretora do Senado ocorre logo após a cerimônia de posse dos 27 eleitos. Os senadores novatos que se tornaram ministros —Flávio Dino (PSB-MA), Camilo Santana (PT-CE), Wellington Dias (PT-PI) e Renan Filho (MDB-AL)— devem participar da votação antes de deixar o mandato.

ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE DO SENADO

Para ser eleito, o candidato deve receber 41 votos em primeiro ou segundo turno

Partidos que apoiam Rodrigo Pacheco

PSD - 13
MDB - 10
PT - 9
PDT - 3
PSB - 2
Rede - 1
Cidadania - 1
TOTAL: 39

Partidos que apoiam Rogério Marinho

PL - 13
Progressistas - 6
Republicanos - 4
TOTAL: 23

Partidos ainda sem definição

União Brasil - 10
Podemos - 5
PSDB - 4
TOTAL: 19

Fonte: Folha de São Paulo