Pelo menos dois jornalistas e um defensor de direitos humanos foram espionados, que investigavam supostas violações cometidas pelas Forças Armadas. (Foto: Henry Romero/REUTERS )

Porto Velho, RO - RT Actualidad - Uma investigação jornalística coletiva mostrou que, em 2019, o Exército Mexicano comprou o software Pegasus para espionar ilegalmente pelo menos dois jornalistas e um defensor de direitos humanos, que apuravam supostas violações de direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas.

A informação, divulgada pelos portais Animal Político e Aristegui Noticias, a revista Proceso e a Rede em Defesa dos Direitos Digitais (R3D), contradiz o presidente Andrés Manuel López Obrador, que havia assegurado que durante seu governo não eram realizadas esses tipos de intervenções.

No entanto, um grupo ativista que se autodenomina Guacamaya no mês passado hackeou milhões de comunicações do Ministério da Defesa Nacional (Sedena) e o vazamento dos documentos confirmou que a Sedena adquiriu o sistema Pegasus e o operou de 1º a 30 de junho de 2019. Até então, López Obrador governava o país há seis meses.

A Pegasus, que é propriedade da empresa israelense NSO Group, tem causado múltiplas controvérsias em vários países, devido à discrição com que tem sido usada por vários governos para espionar ilegalmente ativistas e opositores.


No ano passado, outra investigação da mídia internacional já havia revelado que o ex-presidente Enrique Peña Nieto gastou milhões de dólares em recursos públicos para comprar o software Pegasus, com o qual pelo menos 15.000 celulares foram grampeados ilegalmente, incluindo os do próprio López Obrador e sua família, bem como jornalistas e defensores dos direitos humanos.

Naquela época, López Obrador condenou a espionagem e garantiu que seu governo não o fazia.

Filtração

No entanto, os documentos agora vazados mostram que a Secretaria de Defesa Nacional (Sedena) comprou o software em 12 de abril de 2019, conforme consta no ofício SGE-3335, enviado pela seção 'Guerra Eletrônica' da Diretoria Geral de Transmissões, em que informa do pagamento e cumprimento do serviço.

Pegasus serviu para espionar pelo menos três cidadãos: um jornalista do portal Animal Politico, cujo nome não foi revelado por questões de segurança; o jornalista Ricardo Raphael e o defensor de direitos humanos Raymundo Ramos. Seus computadores foram submetidos a uma análise forense pelo Citizen Lab, da Universidade de Toronto, que confirmou a intervenção.

Graças a esse sistema, os espiões conseguiram acessar senhas, arquivos, fotos, e-mail, contatos e aplicativos de mensagens, inclusive criptografados. Eles também conseguiram ativar o microfone e a câmera para monitorar todas as atividades próximas ao telefone, bem como as conversas de mensagens realizadas antes do ataque.

A carta que comprova a compra é classificada como "secreta" e refere-se ao contrato DN-10 SAIT-1075/P/2019 para o "serviço de monitoramento remoto de informações", conforme relatado por um e-mail que faz parte dos milhões de arquivos da Sedena obtidos pelo grupo Guacamaya.

Embora López Obrador tenha tentado minimizar os hackers, os documentos revelaram informações confidenciais, como o estado de saúde do presidente e uma emergência médica que ele sofreu que nunca foi divulgada publicamente, além de alegações de abuso sexual no Exército que não foram relatadas, devidamente investigadas ou punidas.

Nesta segunda-feira, o presidente mais uma vez desdenhou os riscos envolvidos no vazamento da Sedena e garantiu que não fará nenhuma reclamação contra os responsáveis.

"Quem não deve nada, não teme nada", assegurou, alertando que não se importa que sejam divulgados dados sobre suas doenças, pois o grave seria se ficasse demonstrado que a Sedena fabrica crimes, reprime ou tortura.

Fonte: Brasil247