A reunião da cúpula tucana foi marcada por divergências, já que alguns parlamentares entendem que Doria fica em desvantagem na disputa com a senadora Simone Tebet

Porto Velho, RO - A executiva nacional do PSDB decidiu manter o entendimento de que a chapa da terceira via para o Palácio do Planalto será definida com base em pesquisas quantitativas e qualitativas, o que deve ser desvantajoso para o pré-candidato do partido, João Doria. Esses levantamentos serão apresentados no dia 18 de maio. Essa data seria o prazo limite para os partidos de centro chegarem a um consenso, mas a escolha do candidato deve ser adiada.

A reunião da cúpula tucana foi virtual e acabou marcada por uma série de resistências internas. Alguns parlamentares entendem que os parâmetros adotados deixam Doria em desvantagem na disputa com a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Isto porque o ex-governador de São Paulo sofre com alta rejeição, enquanto Tebet dialoga com o público feminino, o mais indeciso, segundo as pesquisas de intenção de voto.

Ao GLOBO, a senadora demonstrou que está satisfeita com os critérios até agora escolhidos pelos partidos de centro e não vê problemas se a decisão for adiada também:

— Se puder ser dia 18, é ótimo. Se precisar de mais uma semana ou duas em função da pesquisa que vai ser feita, acho que isso não vai atrapalhar. O importante é que o processo está sendo feito de forma mais democrática. Não é a preferência em relação ao meu nome ou do Doria. Nós precisamos ter o melhor candidato, ou candidata. A pesquisa vai dizer. E vou acatar qualquer resultado e qualquer deliberação feita pelos presidentes dos partido.
Aécio vê “desperdício”

Pessoas próximas que acompanham as negociações avaliam que Tebet ganhou força no PSDB em razão da resistência interna que Doria enfrenta.

No PSDB, o aval a uma chapa encabeçada por um nome de outro partido representaria uma mudança na tradição da legenda, que, desde a sua fundação, sempre teve representante na corrida presidencial. Embora seja adversário de Doria, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) foi um dos que se opuseram ao critério de pesquisa, o classificou como “desperdício” e disse que todos já sabem que o resultado será favorável a Tebet.

Pessoas próximas que também participaram da reunião leram o movimento de Aécio como uma tentativa de que Doria abra mão para trazer de volta à cena o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. O gaúcho perdeu as prévias presidenciais para o paulista no ano passado e tem se dedicado à sua sucessão no estado, mas mantém o discurso, para aliados, que ainda não descartou o plano nacional.

Ainda assim, no dia 18 será formada uma delegação liderada por um senador de cada partido da aliança (MDB, PSDB e Cidadania) para analisar o levantamento contratado junto ao Instituto Guimarães Pesquisa e Planejamento.

Depois, o assunto deve voltar a ser discutido pelas executivas de cada uma das siglas. A expectativa das lideranças dos partidos que acompanham as negociações é que a conclusão do processo possa se estender para junho e até mesmo se aproximar das convenções partidárias, previstas para o período de julho a agosto.

Desde o início do ano, a discussão sobre um pacto dos partidos de centro está cercada de divergências. Um dos pontos era a defesa de Doria das pesquisas quantitativas como critério de escolha porque, na média, ele pontua melhor que Tebet.

Mais tempo

Embora o ex-governador negue publicamente que fosse a favor de postergar a decisão, seus aliados sempre defenderam essa tese sob o argumento de que o paulista ganharia fôlego e teria mais tempo para crescer nas pesquisas após a sua exposição na TV com as inserções do PSDB.

O entorno de Doria ainda espera uma reação dele nas pesquisas para aplacar os questionamentos à sua candidatura no PSDB. Enquanto isso, porém, a cúpula do PSDB tem feito sinalizações na direção de Tebet. Em nota na quarta-feira, o PSDB deixou claro que aceitou a proposta dos critérios apresentada pelo MDB, o que foi lido internamente como mais um sinal de enfraquecimento de Doria.

O paulista tentou protagonizar as negociações, mas acabou isolado e viu alguns de seus aliados darem carta branca para que o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, siga à frente das tratativas. Araújo acumula desavenças com Doria e foi afastado da coordenação de campanha do ex-governador. Na terça-feira, a bancada federal fez uma nota de apoio ao presidente do PSDB.

Apesar do cenário desfavorável, Doria segue na disputa. Como venceu as prévias presidenciais no ano passado, seus aliados afirmam que o paulista tem a prerrogativa de ser o candidato a presidente.

Fonte: O Globo