Documentário de Gabriela Gastal está disponível no Globoplay e mostra luta parlamentar que conseguiu importantes reivindicaçõ
As mulheres, lideradas pela atriz luso-brasileira Ruth Escobar, incorporaram a expressão. Esse também é o título do documentário de Gabriela Gastal, com roteiro de Christiana Albuquerque e produção de Renata Fraga, disponível na Globoplay.
O filme narra, com detalhes, a luta de um grupo de mulheres que conduziram um dos mais bem-sucedidos movimentos pelos direitos femininos no País. Além de Ruth Escobar, integravam o grupo a deputada Benedita da Silva, a socióloga Jacqueline Pitanguy, as advogadas Anna Maria Rattes, Comba Marques Porto e Leila Linhares Barsted, a economista Hildete Pereira de Melo, a escritora Marina Colasanti e a pedagoga Schuma Schumaher.
O grupo se forma e atua num momento muito particular da história brasileira. Depois de 21 anos de ditadura, o País voltava à democracia e preparava-se para elaborar uma nova Constituição. Era um período efervescente, de ampla discussão, com diversos grupos sociais discutindo intensamente suas reivindicações para que a nova Carta Magna fosse de fato expressão daquele momento de superação.
Nessa luta parlamentar, as mulheres conseguiram boa parte de suas reivindicações. Por exemplo, o artigo 5.º da nova Carta prevê direitos e deveres iguais para homens e mulheres. Ao longo do filme, elas lembram que, pela legislação de 1916, a mulher se subordinava ao marido quando se casava. Ele era o “chefe da família” e tinha poder de decisão, inclusive sobre os bens herdados pela esposa.
Desde então a sociedade evoluiu. Mesmo sob ditadura, o Brasil não se isolava do mundo e da mudança de ares trazida pelos libertários anos 1960 e 1970. No entanto, persistia por aqui o ranço de um patriarcalismo ancestral.
Pode-se dizer que, ainda acobertado, persiste até hoje. A deputada Benedita da Silva lembra um pequeno “sintoma” desse mundo centrado nos homens – “Não havia sequer um banheiro para mulheres na Câmara”, diz. Não havia porque supunha-se que aquele era um hábitat exclusivo dos homens que comandam o mundo, e não incluía mulheres.
O documentário de enxutos 60 minutos é bastante simples. Traz material de arquivo e entrevistas recentes das mulheres envolvidas nessa luta histórica – menos de Ruth Escobar, falecida em 2017. Justo ela, definida pelas companheiras como a mais aguerrida, um verdadeiro “trator” na defesa das ideias do grupo.
Apesar de simples, esse formato é eficaz, graças à vivacidade dos depoimentos e à maneira como eles são encadeados pela montagem do documentário. O filme dá ideia perfeita da trajetória e das dificuldades dessa luta.
Renata Fraga (produtora), Gabriela Gastal (diretora) e Christiana Albuquerque (roteirista), as realizadoras do documentário 'Lobby do Batom' Foto: Camilla Maia
Elas foram cobrar do novo presidente. Lembraram da promessa de Tancredo e ameaçaram: “Se o senhor não criar o CNDM, nós vamos acampar na porta do Palácio do Planalto e o senhor não terá mais sossego”. Assim, o CNDM ganhou existência legal e orçamento.
O Lobby do Batom sabia que pressão e união são pré-requisitos da ação política, junto com a sabedoria e a percepção do momento justo para agir. Com disposição e inteligência, realizaram conquistas importantes. Conquistas que, como outras, encontram-se sob ameaça no quadro atual de retrocesso.
Fonte: Estadão
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