Presidente ucraniano falou sobre 'situação humanitária difícil' e agradeceu 'as orações pela Ucrânia e pela paz'

Porto Velho, RO - O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky convidou nesta terça-feira o Papa Francisco para atuar como mediador nas negociações entre Ucrânia e Rússia. Em conversa por telefone, o presidente ucraniano informou a "Sua Santidade sobre a situação humanitária difícil e o bloqueio dos corredores humanitários pelas tropas russas" e agradeceu as "orações pela Ucrânia e pela paz" feitas pelo Pontífice.

"Apreciaríamos o papel de mediador da Santa Sé para acabar com o sofrimento humano na Ucrânia", tuitou Zelensky após o telefonema.

Desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, que deixou milhares de mortos, principalmente civis, o Papa Francisco vem reiterando seus apelos à paz. Em uma oração pública em 16 de março, pediu perdão a Deus em nome dos humanos que "continuam bebendo o sangue dos mortos destruídos pelas armas".

A Ucrânia, um país majoritariamente católico ortodoxo, conta com uma importante minoria greco-católica dependente do Vaticano, concentrada principalmente no oeste do país. Quase 9% dos ucranianos afirma pertencer a esta Igreja, enquanto 58% se reivindica como parte da Igreja Ortodoxa independente e 25% como parte do Patriarcado de Moscou, segundo uma pesquisa de 2021.

Pouco depois, em discurso em vídeo para o Parlamento da Itália, Zelensky também afirmou ter ouvido "palavras muito importantes" de Francisco.

— Eu contei a ele que nosso povo se tornou o Exército — disse.

Ovacionado antes mesmo de falar, o mandatário não citou o nome do líder russo Vladimir Putin, mas fez duros ataques contra o chefe do Kremlin. O mandatário tem feito discursos aos parlamentos de diversos países ocidentais para tentar aumentar a pressão por apoio militar.

— O nosso povo se tornou o Exército quando viu o mal que o inimigo causa, quando viu todo o derramamento de sangue. Uma semana atrás, em um discurso para os europeus, pedi para que todos lembrassem do número 79. 79 era o número de crianças mortas naquele momento e agora são 117 — afirmou. — Esse é o efeito da procrastinação de fazer a pressão sobre a Rússia para parar a guerra. Vocês conhecem bem a Ucrânia, um povo que não quis nunca quis a guerra, um povo europeu como vocês.

Após o discurso de Zelensky, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, reiterou "que o governo, o Parlamento e todos os italianos estão ao lado de vocês". Diferentemente do líder ucraniano, Draghi citou nominalmente o presidente Putin por mais de uma vez e criticou a postura "arrogante" do governo de Moscou.

— A Ucrânia é vítima de uma guerra insensata, que não poupa os civis, que mata as crianças e impede a fuga de civis por corredores humanitários — afirmou. — Quero agradecer o presidente por sua incrível coragem. A arrogância do governo russo enfrentou a força dessa população, que se negou a permitir o expansionismo russo. Em Mariupol, Kharkiv e em todas as partes onde recai a feroz guerra do presidente Putin, a resistência é heroica.

Negociações 'pouco substanciais'

Nesta terça, o Kremlin voltou a afirmar que as negociações para acabar com a operação militar russa deveriam ser mais "substanciais". O porta-voz Dmitri Peskov, no entanto, não revelou mais detalhes sobre os temas em que as conversações não avançam:

— Está em curso um certo processo (de negociações), mas gostaríamos que fosse mais enérgico, mais substancia — disse o porta-voz do Kremlin. — Atualmente tornar públicas (estas questões) apenas prejudicaria o processo de negociações, que já é mais lento e menos substancial do que gostaríamos.

Zelensky afirmou na segunda-feira que está disposto a conversar com o colega russo Vladimir Putin sobre um "compromisso" para a região do Donbas, no leste da Ucrânia, também sobre a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, para acabar com a ofensiva iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro.

Enquanto as negociações não avançam, o o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, disse estar preparado para visitar Kiev para ajudar na mediação para pôr fim à guerra, após um convite do governo ucraniano.

De acordo com um comunicado de seu Gabinete, Bennett "estaria pronto para viajar se as negociações alcançassem um nível suficiente de seriedade". O embaixador ucraniano em Israel, Yevgen Korniychuk, por sua vez, disse que nenhuma visita havia sido confirmada.

Fonte: O Globo