Ex-ministro foi pressionado a não impor sua participação na disputa como condição para ingressar na nova legenda

Porto Velho, RO - O ex-ministro Sergio Moro confirmou, em nota, que abriu mão da pré-candidatura à Presidência para se filiar ao União Brasil. O ex-ministro de Bolsonaro, no entanto, deixou em aberto a possibilidade de eventualmente retomar o projeto político.

Segundo Moro, ele aceitou o convite do presidente do União, Luciano Bivar, para "facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única".

"O Brasil precisa de uma alternativa que livre o país dos extremos, da instabilidade e da radicalização. Por isso, aceitei o convite do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, para me filiar ao partido e, assim, facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única", escreveu Moro.

"A troca de legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor", emendou.


Nota de Sérgio Moro postada nas redes Foto: Reprodução/Instagram

Antes da comunicação oficial de Moro, integrantes do União Brasil também divulgaram uma outra nota para ressaltar que o ingresso do ex-ministro ao partido "não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência".

"Deixamos claro que o seu eventual ingresso ao União Brasil não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência da República", diz o texto sobre o ex-ministro.

"Caso seja do interesse de Moro construir uma candidatura em São Paulo pela legenda, o ex-ministro será muito bem-vindo. Mas, neste momento, não há hipótese de concordarmos com sua pré-candidatura presidencial pelo partido", reforçou o grupo.

O documento é assinado por integrantes do União que antes faziam parte do DEM. Entre eles, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o senador Davi Alcolumbre (AP).

Apesar de abrir mão momentaneamente da pré-candidatura para ingressar no União, Moro relatou a aliados que ainda quer tentar entrar na corrida presidencial.

— Ele comunicou agora que vai se filiar (ao União) na busca de uma estrutura maior para tentar viabilizar a candidatura à presidência. Essa é a razão da mudança, tentar abrir espaço nessa discussão do centro democrático que busca convergência — disse o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), ao GLOBO.

E acrescentou:

— Ele acha que com União Brasil terá mais chance de prevalecer nessa discussão. O objetivo é preservar candidatura à presidência, e não o contrário.

Um dos principais aliados de Moro, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) afirmou que respeita a decisão do ex-ministro, mas "infelizmente não crê que ele terá apoio em seu novo partido para ser candidato a Presidente com a missão de resgatar, sobretudo, os princípios e valores , especialmente no que se refere ao enfrentamento à corrupção e impunidade".

Conforme mostrou o GLOBO, o ex-ministro já vinha deixando o partido distante das decisões estratégicas da campanha.

A pessoas próximas, Moro relatou que se sentia "boicotado" pela sigla, já que a presidente do Podemos, Renata Abreu, deixou claro a prioridade em eleger as bancadas no Congresso na eleição deste ano.

Na visão de aliados do ex-ministro, o Podemos não tem estrutura e nem recursos necessários para uma campanha presidencial

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) disse que "já imaginava" que Moro pudesse deixar o partido, porque o Podemos é uma legenda pequena e tem pouca verba para investir numa campanha presidencial, cerca de R$ 1 milhão.

— É natural que o candidato busque uma possibilidade melhor para concorrer à Presidência, vai ter mais tempo de televisão. Podemos continuar apoiando Moro. Não sei qual o acerto que ele fez, mas espero que seja para disputar a Presidência — afirmou Oriovisto, ao GLOBO.
Costura política

Nos últimos dias, Moro procurou outros nomes da terceira via para tentar apoio para sua candidatura à presidência pelo Podemos. Ele ligou para Simone Tebet, pré-candidata pelo MDB, com quem fala frequentemente, com o objetivo de defender que seria o nome ideal por ser, entre as opções postas, aquele que está melhor colocado nas pesquisas.

O ex-ministro ouviu de Simone que o critério a ser escolhido ainda vai ser definido em conjunto com todos os presidentes de partido e é complexo, no sentido de que provavelmente vão ser considerados outros fatores além das pesquisas, como tempo de TV, fundo partidário e número de prefeitos pelo país.

A pré-candidata do MDB à Presidência deixou claro que, para entrar no grupo, Moro vai ter que aceitar as regras do jogo e inclusive a possibilidade de abrir mão da sua candidatura.

Fonte: O Globo