Chanceler Olaf Scholz anunciou que bloqueio das autorizações para o Nord Stream 2 é uma represália às ações de Moscou na Ucrânia; Reino Unido e União Europeia definem sanções nesta terça
Porto Velho, RO - O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou nesta terça-feira, 22, que tomou medidas para interromper o processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, principal obra de infraestrutura energética do país, que transportaria gás natural da Rússia para o país.
O anúncio vem um dia depois de Vladimir Putin autorizar tropas russas a entrarem em território ucraniano, nas regiões de Donetsk e Luhansk, recém-reconhecidas pelo Kremlin como Estados independentes.
Scholz declarou a repórteres em Berlim que seu governo estava tomando a medida em resposta às ações russas na Ucrânia. "Isso pode soar um pouco técnico, mas é a etapa administrativa necessária para que não haja certificação do gasoduto e sem essa certificação, o Nord Stream 2 não pode começar a operar", disse ele, em fala registrada pelo The Moscow Times.
A decisão alemã sobre o gasoduto -- principal alvo de críticas dos EUA e de aliados europeus à Alemanha, que acusam a obra de infraestrutura de aumentar a dependência energética da Alemanha pela Rússia -- é a primeira medida mais contundente de Berlim contra Moscou, enquanto autoridades da Europa discutem outras formas de pressionar o Kremlin.
A Ucrânia saudou a decisão da Alemanha de suspender a certificação do gasoduto como uma questão moral, escreveu o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba. "Este é um passo moral, politicamente e praticamente correto nas circunstâncias atuais. A verdadeira liderança significa decisões difíceis em tempos difíceis. O movimento da Alemanha prova exatamente isso", tuitou Kuleba.
O Reino Unido também parabenizou a decisão da Alemanha de suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2. Um porta-voz do premiê Boris Johnson afirmou que "as ações da Rússia da noite para o dia podem ser precursoras de uma invasão em grande escala".
A União Europeia e o Reino Unido também articulam uma primeira onda de sanções contra a Rússia após os anúncios de Vladimir Putin sobre a Ucrânia, em reuniões da Câmara dos Comuns, em Londres, e em um encontro com ministros das Relações Exteriores da União Europeia, em Paris.
Aos representantes britânicos, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou sanções a cinco bancos russos (Rossiya, IS Bank, General Bank, promsvyazbank and the Black Sea Bank) e sações a três "indivíduos de alta renda" russos: Gennady Timchenko, Boris Rotenberg e Igor Rotenberg.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, todos os ativos dos sancionados no Reino Unido ficarão congelados e os três indivíduos estão proibidos de entrar no país ou de manter negócios com empresas ou prestadoras de serviço britânicas.
Antes da ida ao Parlamento, Johnson havia conversado com repórteres e anunciado que um pacote de sanções econômicas contra Moscou seria instituído "imediatamente". "Esta é, devo enfatizar, apenas a primeira enxurrada de sanções econômicas do Reino Unido contra a Rússia, porque esperamos, devo dizer, que haverá mais comportamentos irracionais russos por vir", declarou.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido aplicará 'primeira onda' de sanções contra a Rússia nesta terça. Foto: AP Photo/David Cliff
Do outro lado do Canal da Mancha, o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, disse que a reunião em Paris decidirá a resposta europeia sobre o tema. "Claramente, essa resposta será na forma de sanções", afirmou Borrell, acrescentando que o objetivo inicial não é impor toda a gama de sanções que a UE preparou caso a Rússia invada a Ucrânia, mas sim dar resposta ao reconhecimento de Donetsk e Luhansk como independentes.
Questionado se a decisão da Rússia de enviar "mantenedores da paz" já equivale a uma invasão, Borrell disse: "Eu não diria que é uma invasão completa, mas as tropas russas estão em solo ucraniano".
No caso das sanções britânicas, Johnson afirmou que elas seriam destinadas não apenas a entidades em Donbass, Luhansk e Donetsk, mas na própria Rússia "visando os interesses econômicos russos o máximo que pudermos". O Reino Unido já ameaçou cortar o acesso de empresas russas a dólares americanos e libras esterlinas, impedindo-as de levantar capital em Londres.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, suspendeu o funcionamento do Nord Stream 2 como forma de repreensão à Rússia. Foto: AP Photo/Michael Sohn
Também não foi especificado quem incidirão as sanções, mas Johnson prometeu que não haverá lugar para os oligarcas russos se esconderem. O premiê também disse que os alvos podem incluir bancos russos.
Centenas de bilhões de dólares fluíram da Rússia para Londres e territórios ultramarinos do Reino Unido desde a queda da União Soviética em 1991, e Londres se tornou a cidade ocidental preferida dos super-ricos da Rússia e de outras ex-repúblicas soviéticas.
Fonte: Estadão


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